07/10/2010 – Nem mesmo igrejas cristãs têm unidade de posição sobre aborto (Estadão)

07 de outubro, 2010

(O Estado de S. Paulo) “Nem mesmo entre os cristãos o aborto é uma questão resolvida. Entre as correntes que formam o Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil (Conic) há os que condenam qualquer tipo de aborto – como a Igreja Católica Apostólica Romana -, os que aceitam os dois únicos casos legais previstos no Código Penal (risco de morte da mãe e estupro), os que o admitem apenas a primeira possibilidade e ainda os que permitem outras hipóteses.”

Até hoje o Conic ainda não realizou nenhuma reunião para tratar do aborto; portanto, as Igrejas Cristãs ainda não têm uma posição única.

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Fonte: Jefferson Drezett e Ministério da Saúde; infográfico AE.

O Estadão ouviu representantes das cinco igrejas que compõem o Conic: Apostólica Romana, Anglicana do Brasil, Confissão Luterana, Síria Ortodoxa da Antioquia e Presbiteriana Unida.

Daniel Veitel, secretário executivo da Comissão Brasileira Justiça e Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB):
“A Igreja Católica é contra qualquer tipo de aborto, até mesmo os previstos no Código Penal.”
“Somos também contrários à permissão de aborto no caso de fetos de anencéfalos (fetos sem cérebro), cuja questão está em debate no Supremo Tribunal Federal (STF).”
“Somos a favor da vida. Esse é o preceito cristão.”

Reverendo-cônego Francisco de Assis da Silva, secretário-geral da Igreja Episcopal Anglicana no Brasil:
“A defesa da vida é cláusula pétrea para nós. Mas temos de lembrar que nem por isso temos de transformar a defesa da vida num dogma. É preciso levar em conta a saúde das pessoas, tanto do ponto de vista físico quanto espiritual.”
“No caso do risco de morte, a medicina tem critérios científicos para definir quando deve ou não ser feita a interrupção da gravidez. Não somos favoráveis à descriminalização total do aborto, porque criaria muita confusão. Mas não somos a favor de dogmas. Defendemos políticas públicas. Pastoralmente, não podemos aceitar que o risco de morte e a violência, como o estupro, não sejam fatores a serem considerados para a interrupção da gravidez.”
“Há coisas muito mais importantes para os candidatos dizerem aos eleitores, como a saúde, educação, distribuição de renda, relação com a sociedade civil, formas de apropriação ou não do Estado. Para isso, uso uma parábola de Jesus aos fariseus: às vezes as pessoas engolem camelos e coam mosquitos. Essa questão do aborto é como coar o mosquito e engolir o camelo.”

Pastor Carlos Augusto Möller, vice-presidente da Igreja Luterana e presidente do Conic:
“O tema está sendo muito valorizado porque estamos às vésperas da eleição presidencial. Nós defendemos a vida e achamos que as duas hipóteses previstas no Código Penal tratam dessa questão de forma muito clara. Um candidato a presidente não deve tratar disso, não tem o direito, pois é somente um candidato.”

Reverendo Enoc Teixeira Wenceslau, presidente da Igreja Presbiteriana Unida:
“Isso é fazer como Pilatos, lavar as mãos”, diz o reverendo sobre a hipótese de realização de um plebiscito sobre o tema. Ele defende a tese de que os candidatos assumam uma posição e digam ser contrários ao aborto.

Antônio Nakkoud, delegado patriarcal da Igreja Síria Ortodoxa da Antioquia:
“A criança não tem culpa. Ela não sabe quem é o pai”, diz Nakkoud sobre a interrupção de uma gravidez resultante de estupro.

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Nem mesmo igrejas cristãs têm unidade de posição sobre aborto (O Estado de S. Paulo – 07/10/2010)

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