(O Estado de S. Paulo) “Artilharia antiaborto do bispo de Guarulhos, d. Luiz Gonzaga Bergonzini, fere a dignidade das mulheres, em especial das que precisam recorrer ao procedimento”, afirma Debora Diniz, professora da UnB e pesquisadora do Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero. Leia abaixo trechos do artigo:
“Não há mulheres verdadeiramente vítimas de estupro, diz o bispo na entrevista. Em alguma medida, todas consentem com a violência sexual. Para ilustrar seu julgamento moral sobre as mulheres e suas falsas histórias de violência o bispo faz uso de uma alegoria que provavelmente resume o que ocorre em seu confessionário: “‘Então, sabe o que eu fazia?’ Nesse momento, o bispo pega a tampa da caneta da repórter e mostra como conversava com mulheres. ‘Eu falava: bota aqui’, pedindo, em seguida, para a repórter encaixar o cilindro da caneta no orifício da tampa. O bispo começa a mexer a mão, evitando o encaixe.”
“Para o bispo, o orifício da tampa de uma caneta resume a verdadeira história das mulheres estupradas – uma mulher que não consente com o ato sexual “resiste ao encaixe do cilindro na tampa da caneta”. Ao serem confrontadas com a verdade da caneta, as mulheres desistiriam do aborto, pois o estupro seria uma mentira.”
“Na alegoria da caneta, o bispo assumiu o lugar das mulheres na cena da violência simulada com a repórter. A tampa da caneta seria a vagina resistindo ao pênis do estuprador. A vagina que mexe, segundo a imaginação do bispo, é a da mulher que resiste ao estupro, nem que isso lhe custe a vida. Esse deslocamento de posições não é inocente: representa a autoridade do bispo, que se crê controlando as vaginas das mulheres como se fossem tampas de canetas, diante das vítimas e de suas histórias de tortura.”
Leia o artigo na íntegra: A verdade da caneta, por Debora Diniz (O Estado de S. Paulo – 26/06/2011)