(Marina Pita/Agência Patrícia Galvão, 12/04/2016) Expectativa da OMS é que, além dos cerca de 1 mil casos confirmados, mais 2,5 mil bebês nasçam com a má formação decorrente da infecção durante a gestação
Em coletiva de imprensa convocada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), no dia 22 de março, em Genebra, a proporção da emergência de saúde pública no Brasil por conta da síndrome do zika congênita ganhou novos contornos. Em conversa com jornalistas, a OMS divulgou uma taxa de conversão de 39% entre casos notificados para microcefalia e os confirmados para os distúrbios neurológicos associados ao vírus durante a gestação.
“Se esta taxa continuar, esperamos que aparecerão 2.500 casos de bebês com dano cerebral. Este número tem como base os dados disponíveis no Nordeste do Brasil. E considerando que o vírus pode se espalhar”, afirmou o dr. Anthony Costello, diretor do Departamento de Saúde Materno-Infantil e de Adolescentes da OMS.
Os dados utilizados pelo especialista para tal afirmação referem-se aos casos registrados até 12 de março pelo Ministério da Saúde.
OMS pede cautela
O porcentual apresentado por Anthony Costello causou imediata reação entre os jornalistas presentes à coletiva, o que fez a dra. Margaret Chan, diretora-geral da OMS, pedir cautela.
“É importante que neste momento sejamos cuidadosos. Por isso precisamos construir o espaço das evidências com base de dados. A taxa de conversão [entre notificação de microcefalia e confirmação da síndrome do zika congênita] ficará mais clara quando tivermos mais informação. Precisamos ser cuidados com a taxa de risco”, declarou Chan.
Vírus se alastra por outros países
Como a epidemia de zika no restante da América Latina ocorreu após o surto no Brasil, são frágeis os dados que relacionam a infecção pelo vírus e o nascimento de bebês com distúrbios no sistema nervoso central, em outras localidades. O Panamá recentemente confirmou o primeiro caso de bebê com microcefalia em que o PCR (exame que identifica a presença do vírus) deu positivo para o cordão umbilical. A criança morreu logo após o nascimento.
“Quatorze países já registraram aumento dos casos da síndrome de Guillain-Barré. A detecção de infecções de zika é seguida, após três semanas, pelo aumento dos casos de síndrome de Guillain-Barré e, apenas mais tarde, por má formação em fetos. O Brasil e o Panamá já reportaram microcefalia em bebês. A Colômbia está investigando vários casos de microcefalia e a relação com o zika. Nos demais países, a presença do zika não se deu há tempo suficiente para que o impacto sobre os recémnascidos pudesse ter sido registrado”, lembrou a diretora-geral da OMS. Atualmente o vírus zika está circulando em 38 países e territórios.
“Eu acho que está ficando claro que [o zika] irá afetar todos os países na América e isso irá continuar. O numero de infecções ainda não é fácil de dizer porque não temos um bom diagnóstico, mas estimamos em muitos milhões. E isso pode acarretar o desenvolvimento de problemas severos de desordens nervosas. Sabemos que há milhares de casos de microcefalia em apenas uma única do região do Brasil. Isso requer investimento não apenas no controle, mas investimento de longo prazo em sistemas de saúde.
Até o momento, dos US$ 25 milhões que a OMS declarou que precisaria para atuar no caso da epidemia de zika, a entidade internacional arrecadou apenas US$ 3 milhões e negocia mais US$ 4 milhões. Segundo a diretora-chefe, o trabalho vem sendo realizado com os 30% do orçamento que não são rubricados com projetos específicos, mas afirmou também que não sabe o que acontecerá quando esses recursos se esgotarem.
Números no Brasil
Um dos motivos para as incertezas quanto à real taxa de conversão da notificação de microcefalia em confirmação da síndrome do zika congênita é o grande número de casos notificados ainda sem apuração no Brasil, conforme mostram as tabelas.