(Correio Braziliense, 03/11/2014) O número estimado pela Pesquisa Nacional do Aborto — cerca de 5 milhões de mulheres até 40 anos, em 2010, já haviam feito o procedimento no país — foi atualizado. Em 2014, a quantidade chegou a 7,4 milhões de brasileiras, aponta o levantamento, feito pela Universidade de Brasília (UnB). Na esteira do aumento da interrupção voluntária da gravidez, considerada crime, há um incremento do mercado clandestino associado à prática. Pesquisa recente da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) quantificou em pelo menos 715 o número de leitos em clínicas ilegais existentes em território nacional.
Intitulada de Magnitude do abortamento induzido por faixa etária e grandes regiões, a pesquisa chegou aos resultados considerando que cada internação por aborto induzido requer cerca de um dia e meio de internação. No Brasil, aponta o estudo, 2.384 abortos voluntários são feitos por dia. Desses, 477 exigiriam internação. Região mais populosa do país, o Sudeste abrigaria o maior número absoluto de leitos em clínicas clandestinas: 269. Em outro extremo, Amapá e Tocantins teriam o menor índice: sete, cada um.
Professor da Uerj e um dos autores da pesquisa, Mário Giani acredita que as clínicas clandestinas muitas vezes são mais seguras que os abortos feitos em casa. “Esses leitos são melhores que os procedimentos domésticos rústicos e primitivos adotados por quem não pode pagar o atendimento em clínica particular”, avalia. Ele alerta que abortos mal realizados resultam em infecções e hemorragias graves, perfuração do útero, esterilidade e mortalidade materna.
Não existe um órgão governamental que centralize os dados sobre as clínicas clandestinas. Polícia Civil e as vigilâncias sanitárias dos municípios e estados fazem operações isoladas, motivadas por denúncias ou investigações pontuais. Apesar da repressão, mulheres de todas as classes sociais e faixas etárias recorrem à interrupção da gestação, de acordo com a Pesquisa Nacional do Aborto. Ainda que algumas clínicas ilegais representem opção menos arriscada que realizar o procedimento em casa, não é possível garantir a segurança desses locais.
Ana Pompeu
Acesse no site de origem: Pesquisa estima que o Brasil tenha 715 leitos ilegais em clínicas de aborto (Correio Braziliense, 03/11/2014)