Mulheres buscam na Justiça indenização contra violência obstétrica
(Piauí | 15/06/2022 | Por Felippe Aníbal)
Passava das 23h30 de 15 de abril de 2020 quando Claudineia Scors de Sene sentiu que não suportaria mais as dores. Fazia mais de nove horas que tinha dado entrada no Hospital Santa Tereza, em Guarapuava, interior do Paraná, em trabalho de parto. Nesse período, foi colocada em uma antessala, onde ficou sem alimentação e sem informações sobre seu estado. “Me abandonaram lá. Mal e mal veio uma enfermeira me ver, sempre ríspida”, disse a jovem. Só após implorar por medicação que lhe aliviasse a dor, uma enfermeira lhe aplicou uma injeção intravenosa. Claudineia relata que, àquela altura, estava à beira do desespero. Aos 17 anos, na época, ela era uma jovem miúda, de 1,49 metro de altura. A última ecografia tinha apontado que o bebê nasceria com mais de três quilos.
“No pré-natal, o médico tinha falado que a orientação era de cesárea, porque o bebê era muito grande e eu sou bem pequena. No dia [do parto], a enfermeira disse, bem estúpida, que não fariam [a cesárea], que era pra eu parar de mimimi”, contou. “Quando a enfermeira aplicou a injeção, eu perguntei o que era. Ela respondeu: ‘é um remédio que o médico não dá em qualquer situação’. Eu fiquei desesperada. Eu não sabia, mas a coisa ia piorar mais ainda”, acrescentou.
Em seguida, Sene sentiu a cabeça do bebê “coroando”, ou seja, começando a despontar para fora de sua vagina. A enfermeira, então, ordenou que a jovem fosse caminhando à sala de parto. “Ficava no fim do corredor, cinco quartos adiante. Fui com muita dificuldade, com as pernas meio abertas e aparando a cabecinha dele com a mão, porque estava com medo que ele nascesse, que caísse no chão”, relatou. Na sala, diz ter sido recebida pelo médico com “cara de sarcasmo”. Assim que ela se deitou, uma enfermeira começou a forçar sua barriga em direção à pelve – procedimento conhecido como manobra de Kristeller, contraindicada pela Organização Mundial da Saúde e proibida em muitos países, mas que ainda é aceita no Brasil, embora criticada por especialistas. Quando o bebê nasceu – às 00h40 de 16 de abril –, estava com a pele gelada e arroxeada.