Soropositivos com câncer recebem menos tratamento para tumores do que soronegativos, diz estudo

23 de maio, 2016

(Agência AIDS, 23/05/2016) Pacientes com câncer infectadas pelo HIV são muito menos propensos a receber tratamento para tumores do que as pessoas que não têm o vírus, sugere um grande estudo realizado nos Estados Unidos, segundo reportagem de Lisa Rapaport para a agência de notícias Reuters. Pesquisadores revisaram os dados nacionais de registro de câncer em mais de 2,2 milhões de adultos, incluindo cerca de 10 mil com HIV, para ver com qual frequência as pessoas receberam radiação, cirurgia ou medicamentos para atacar tumores.

O número de pacientes infectados pelo HIV que não receberam nenhum destes tratamentos para tumores de pulmão, mama, próstata, colo do útero e do trato gastrointestinal alto foi mais de duas vezes maior que o de pessoas sem o vírus nas mesmas condições, segundo o estudo.

Os pacientes com HIV também apresentaram cerca de metade da probabilidade de obter tratamentos para doenças malignas de cabeça e pescoço e certos linfomas ou tumores dos gânglios linfáticos.

“O câncer está se tornando rapidamente a principal causa de morte em pacientes soropositivos, por isso precisamos urgentemente entender por que eles têm menos probabilidade de serem tratados”, disse por e-mail o principal autor do estudo, o médico Gita Suneja, da Universidade de Utah School of Medicine , em Salt Lake City.

O câncer já é a segunda causa mais comum de morte entre os pacientes infectados pelo HIV, por trás das complicações causadas pela aids, observaram os pesquisadores na revista “Cancer”.

Idade e condição financeira

Para avaliar como o status sorológico influencia os cuidados com o câncer, Suneja e seus colegas analisaram dados de registro oncológicos de 2003 a 2011, entre adultos com menos de 65 anos de idade.

Depois de terem contabilizado o status do seguro saúde e outras condições médicas – dois principais fatores que influenciam o tratamento do câncer – eles descobriram que os tumores anais foram o único tipo para o qual as chances de tratamento foram similares, independentemente do HIV.

As pessoas portadoras do HIV tendiam a ser mais jovens – metade delas tinha pelo menos 47 anos e as soronegativas 55.

Além disso, as pessoas com HIV eram mais propensas a serem do sexo masculino, negros ou hispânicos e não tinham seguro médico ou benefícios por meio do Medicaid (o programa de saúde dos EUA para os pobres). A maioria das pessoas soronegativas tinham seguro de saúde privado.

Limitação

Uma limitação do estudo é que os pesquisadores não dispunham de dados sobre a gravidade do HIV dos pesquisados, o que pode influenciar a elegibilidade para o tratamento do câncer, segundo os autores ressaltaram. Eles também não sabiam da gravidade de outras condições médicas que os pacientes tinham, o que também poderia ajudar a determinar o direcionamento do tratamento do câncer.

“Também é possível que fatores como abuso de substâncias ou problemas de saúde mental possam ter desempenhado um papel naqueles que receberam o tratamento do câncer”, observou Stefan Barta, pesquisador do Fox Chase Cancer Center, na Filadélfia, que não esteve envolvido no estudo.

Ao mesmo tempo, muitos testes de drogas para o câncer excluíram as pessoas infectadas pelo HIV, o que pode ter feito os médicos relutarem em usar estes medicamentos, mesmo quando eles poderiam ser eficazes, acrescentou Barta.

“Os resultados para pessoas que vivem com HIV e câncer tratados adequadamente podem ser semelhantes aos de pacientes não infectados pelo HIV”, afirmou Barta.

“O rastreio adequado do câncer de pessoas que vivem com HIV, alterações da educação em saúde e estilo de vida, tais como a cessação do tabagismo, deveriam estar na linha de frente”, continuou Barta.

“Mesmo que os médicos que tratam pacientes infectados pelo HIV com câncer ainda precisem resolver possíveis interações medicamentosas e efeitos colaterais da combinação de medicamentos para ambas as condições, isso é mais fácil hoje do que era antes, porque os medicamentos mais novos são mais eficazes e menos tóxicos”, afirmou Ronald Mitsuyasu, pesquisador de HIV e câncer na David Geffen School of Medicine na Universidade da Califórnia, em Los Angeles.

“Medicamentos para HIV já produzidos agora têm pouca interação com muitos agentes de quimioterapia e pacientes podem ser transferidos facilmente de uma classe de tratamento antirretroviral para outra sem muita dificuldade para evitar interações medicamentosas,” disse por e-mail Mitsuyasu, que também não esteve envolvido no estudo.

“Oncologistas que estão bem informados sobre HIV e câncer podem gerenciar facilmente a maioria dos pacientes com as duas patologias, e nós recomendamos que pacientes portadores do HIV com câncer sejam tratados de forma tão agressiva e com o mesmo tratamento que usamos em nossos pacientes não soropositivos”, concluiu Mitsuyasu.

Lisa Rapaport

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