(O Globo, 25/02/2016) A tragédia de uma jovem mãe de Salvador, na Bahia, levou à descoberta de outros tipos de defeitos congênitos com possível associação à infecção pelo zika. A diferença neste caso é que a moça assegura não ter apresentado sintomas, mas o feto tinha o vírus no cérebro, na medula e morreu em consequência de uma série de malformações. Este é o primeiro caso relatado em revista científica de hidranencefalia, hidropsia e aborto espontâneo relacionados ao zika.
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A moça sofreu o aborto na 32ª semana de gestação. O feto, uma menina, tinha hidranencefalia. Nesse caso, o feto não tinha a maior parte do cérebro. O crânio estava preenchido em sua maior parte por fluidos. O feto apresentava ainda microcefalia severa e artrogripose, que causa malformação grave dos membros.
Tinha ainda hidropsia, um distúrbio congênito no qual pulmões e outros órgãos e tecidos se enchem de fluidos. Publicado na revista científica “PLOS negleted tropical diseases” , o estudo foi realizado por uma equipe do Hospital Geral Roberto Santos, em Salvador. A pesquisa foi liderada por Alberto Ko, da Universidade de Yale (Estados Unidos), e Antônio Raimundo de Almeida, da Universidade Federal da Bahia. Contou ainda com cientistas de outras instituições brasileiras e americanas.
A jovem foi encaminhada ao hospital, na 18ª semana de gestação, após a detecção de defeitos congênitos no feto. Estes só se agravaram à medida que a gravidez evoluía. Até que no oitavo mês ela começou a abortar e teve o parto induzido devido ao risco de morte da mãe. O bebê nasceu morto. Segundo o estudo, a mulher começou o pré-natal na quarta semana de gestação. Até o primeiro trimestre, o feto era normal. Exames descartaram todas as causas mais conhecidas de malformações congênitas, como citomegalovírus, rubéola e toxoplasmose. Tampouco a mulher tem história familiar de doença congênita.
Chamou atenção dos pesquisadores o fato de a mãe, que doou o feto para o estudo, ser assintomática para o zika.
Esse é o primeiro caso cientificamente registrado de uma gestante assintomática cujo feto tinha malformações. A mãe fez o exame molecular de PCR, que deu negativo, mas somente um exame sorológico poderia atestar se ela de fato foi contaminada previamente.
O zika, porém, foi encontrado por exame de PCR em remanescentes do córtex cerebral, na medula e nos fluidos cerebrospinal e amniótico do feto. Não foi achado em coração, pulmões e placenta. Os achados sugerem que o vírus permaneceu com o feto até o fim.
Embora não seja possível usar um único caso para explicar complicações numa população, os pesquisadores destacaram que o caso serve como um alerta.
“Essas descobertas trazem o alerta de que o zika pode causar abortos de natimortos e outros tipos de complicações neurológicas não observadas até agora”, destacou Albert Ko no estudo. O pesquisador dirige o Departamento de Epidemiologia de Yale e tem trabalhado com casos de zika na Bahia desde o início de 2015.
Por Ana Lucia Azevedo
Acesse no site de origem: Zika pode causar outros defeitos congênitos, diz revista científica (O Globo, 25/02/2016)