Francisco pede mais respeito e menos julgamento por parte da Igreja

08 de abril, 2016

(O Globo, 08/04/2016) Em documento histórico, Papa prega tolerância a gays e divorciados, mas diz que união homoafetiva não é casamento; ele condena aborto e contraceptivos

O Papa Francisco pediu que a Igreja Católica renove sua visão sobre a família, com uma postura mais aberta e respeitosa àqueles que “participam de modo imperfeito da vida dela”, como as pessoas que se divorciaram ou casaram mais de uma vez, dizendo que “ninguém deve ser condenado para sempre”. No documento Amoris Laetitia (Alegria do amor), o pontífice recomenda respeito aos gays, apesar de não aceitar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Sobre o aborto, Francisco manteve a posição do Vaticano de oposição em qualquer circunstância:

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“Nenhum suposto direito ao próprio corpo pode justificar a decisão de encerrar com aquela vida”, afirmou o Papa, no documento de 260 páginas.

A revisão de algumas posições da Igreja era esperada, sobretudo em relação aos divorciados. Sobre as regras atuais, pessoas que se casam mais de uma vez não podem receber a comunhão, a menos que se abstenham das relações sexuais com o novo parceiro, porque o primeiro casamento ainda é válido sobre os olhos da Igreja e eles são vistos como vivendo em pecado.

“Ninguém pode ser condenado para sempre, porque essa não é a lógica do Evangelho! Aqui estou não apenas falando sobre os divorciados, mas de todos, em qualquer situação em que se encontrem”, afirmou o pontífice.

Sobre a comunidade LGBT, Francisco pediu que a Igreja “reafirme que cada pessoa, independente de sua orientação sexual, deve ser respeitado em sua dignidade e tratada com consideração, sendo que ‘todo sinal de discriminação injusta’ deve ser cuidadosamente evitado, particularmente qualquer forma de agressão e violência”.

UNIÕES HOMOAFETIVAS NÃO SÃO CASAMENTO, DIZ O PAPA

Mas o Papa não chegou a pressionar por uma mudança na doutrina da Igreja:

“As uniões de facto ou de pessoas do mesmo sexo, por exemplo, não podem simplesmente serem equiparadas ao casamento”, afirmou Francisco. “Essas famílias devem receber orientação pastoral respeitosa, de modo que aqueles que manifestem orientação homossexual possam receber a assistências que precisam para compreender e carregar a vontade de Deus em suas vidas”.

Reconhecendo que a Igreja Católica falha na aproximação com os mais jovens, Francisco pediu que os padres ofereçam uma visão mais atraente sobre o casamento:

“Eu penso sobre o dia de São Valentim; em alguns países, interesses comerciais são mais rápidos para verem o potencial desta celebração do que nós, na Igreja”.

‘DIMENSÃO ERÓTICA DO AMOR’

O pontífice também dedicou duas páginas para a “dimensão erótica do amor” dentro do casamento, promovendo uma visão positiva sobre a sexualidade, que deve ser “vista como um presente de Deus para enriquecer o relacionamento dos casados”. Entretanto, Francisco criticou a educação sexual formal nas escolas, que discutem o sexo seguro e medidas anticoncepcionais:

“Tais expressões transmitem uma atitude negativa em relação à finalidade natural de procriação da sexualidade, como se uma criança eventual fosse um inimigo de quem se deve se proteger”.

Sobre os tratamentos de fertilidade, Francisco descreveu como algo que “deve ser recebido como um presente”, sugerindo que casais inférteis façam uso dessas técnicas.

E para o bem das relações, Francisco enumerou algumas atitudes que enfraquecem os laços entre os casais. “Muita dor e muitos problemas são resultado de quando paramos de olhar um para o outro”. Para o Pontífice, a imaturidade é outro problema que tem afetado os casais, assim como a tecnologia.

“Apenas aos quarenta anos algumas pessoas alcançam a maturidade que deveriam ter ao fim da adolescência”, escreveu o Papa, que também mostrou suas críticas ao uso excessivo da tecnologia. “Eles acreditam, entre as linhas das redes sociais, que o amor pode ser conectado ou desconectado ao capricho do consumidor, e as relações rapidamente bloqueadas”.

Acesse o PDF: Francisco pede mais respeito e menos julgamento por parte da Igreja (O Globo, 08/04/2016)

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