Indústria da desinformação de gênero, por Ana Frazão

03 de abril, 2024 Jota Por Ana Frazão

O papel da publicidade digital abusiva na disseminação da misoginia e na violação dos direitos das mulheres

Recente relatório do NetLab, Eco e UFRJ, cujo título é “Golpes, Fraudes e Desinformação na Publicidade Digital Abusiva contra Mulheres”, procura demonstrar, a partir de pesquisa empírica, o quanto o ambiente virtual tem aumentado a misoginia e ampliado a vulnerabilidade das mulheres.

A conclusão do estudo converge com muitas pesquisas e análises anteriores que relacionam a lógica algorítmica e o modelo de negócio das plataformas com o reforço da misoginia e dos estereótipos de gênero. Por meio de narrativas nocivas que se espraiam com muita facilidade nas redes sociais e são amplificadas em comunidades e salas de bate-papo, uma verdadeira cultura da “machosfera” ou “manosfera” está se sedimentando, o que representa uma ameaça às mulheres em pelo menos grandes quatro frentes:

  • riscos ao corpo e à saúde da mulher, por meio de conteúdos que exploram, de forma indevida, a saúde, a estética e a sexualidade das mulheres, incluindo promessas milagrosas;
  • discursos de misoginia e de combate à igualdade de gênero;
  • discursos que exploram a autonomia da mulher, sob falsas promessas de empoderamento pessoal e financeiro; e
  • discursos que exploram as fragilidades emocionais relacionadas à religiosidade e à espiritualidade das mulheres.

O relatório mostra como o anonimato e a ausência de regulamentação das plataformas são importantes incentivos para comportamentos misóginos. Não surpreende que, de acordo com a Safernet, as denúncias de misoginia online saltaram de 961 casos em 2017 para 28.600 em 2022, sendo maiores do que as denúncias de xenofobia, apologia a crimes contra a vida, racismo, LGBTfobia, intolerância religiosa e neonazismo. Daí a conclusão da Safernet de que “as mídias sociais são o principal espaço para disseminar discurso de ódio contra as mulheres, no Brasil e no mundo. O ranking é liderado pelo Facebook, seguido por TikTok Twitter e Instagram”.

É diante dessa situação que o relatório apresenta análise empírica sobre a extensão e o conteúdo dos anúncios publicitários tóxicos, assim considerados os que veiculam ameaças às mulheres em algum grau. Em apenas 28 dias de coleta, foram identificados, somente nas plataformas da Meta, 1.565 anúncios tóxicos, sendo que mais de 98% deles não foram nem mesmo classificados como sensíveis.

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