Menstruação: o que você precisa saber para cuidar do seu corpo com carinho e conhecimento

29 de maio, 2025 Nós, Mulheres da Periferia Por Amanda Stabile

Entender o próprio corpo é um passo essencial para o cuidado e a autonomia. Saiba mais sobre métodos e cuidados

Menstruar é natural, mas ainda hoje é cercado de silêncios, vergonha e desinformação. Em muitos lugares, falar sobre o próprio ciclo menstrual é um tabu — e isso dificulta o acesso a informações importantes, produtos adequados e cuidados de saúde. Este texto foi feito para quem menstrua, para quem convive com pessoas que menstruam, e para todas as pessoas que acreditam que saúde é um direito. Afinal, entender o próprio corpo é um passo essencial para o cuidado e a autonomia.

Entendendo o ciclo menstrual

O ciclo menstrual acontece, em média, a cada 28 dias e passa por diferentes fases marcadas por variações hormonais e mudanças no corpo. Esses são os momentos principais:

Fase folicular: começa no primeiro dia de sangramento menstrual e marca o início do ciclo, quando o organismo começa a preparar um novo óvulo. O cérebro libera o hormônio folículo estimulante (FSH), que estimula o crescimento dos folículos (estruturas onde os óvulos se desenvolvem) nos ovários. O hormônio estrogênio aumenta, ajudando a reconstruir o endométrio (tecido que reveste o útero) que foi liberado durante a menstruação. Essa fase dura em torno de 14 dias e, após a menstruação, o muco cervical tende a ser seco, esfarelado ou ausente; conforme a ovulação se aproxima, ele se torna mais abundante, fluido e cremoso, até atingir uma textura elástica e transparente, semelhante a clara de ovo;

Fase ovulatória: o óvulo é liberado a partir do aumento do hormônio luteinizante (LH). Nesse período, o estrogênio atinge seu pico, e o corpo fica biologicamente mais “fértil”. Em geral, considera-se “período fértil” cerca de três dias antes até três dias depois da ovulação e, se você não quer engravidar, é importante usar métodos contraceptivos. Algumas mudanças podem ser percebidas, como o aumento da libido e da autoconfiança, sensação de mais energia, disposição e sociabilidade. Essa fase dura entre 16 a 32 horas e o muco cervical que pode ser observado é abundante, transparente e elástico;

Fase lútea: na reta final do ciclo menstrual, o folículo rompido (que continha o óvulo) forma um tecido chamado de corpo lúteo, que passa a produzir progesterona. Esse hormônio ajuda a espessar o tecido que reveste o útero, preparando o órgão para uma possível gravidez. Se a fecundação não acontece, a progesterona e o estrogênio diminuem, e o endométrio se desfaz e é eliminado na forma de sangue menstrual. Nessa fase, é comum sentir a TPM (Tensão Pré-Menstrual), com oscilações de humor ou irritabilidade, retenção de líquido, maior necessidade de descanso e conforto. Dura entre 10 a 16 dias e o muco cervical é mais espesso e pegajoso com uma coloração esbranquiçada ou amarelada;

Período menstrual: a menstruação não é considerada uma fase independente do ciclo menstrual (como as anteriores), já que acontece nos primeiros dias da fase folicular, que começa no primeiro dia de sangramento. É nesse período que o corpo libera o revestimento do útero (endométrio), se renovando para um novo ciclo. Dura entre aproximadamente entre 3 a 7 dias.

Cada pessoa vivencia o ciclo menstrual de forma única, com variações na intensidade dos sintomas e duração das fases. Alterações muito bruscas ou dores extremas podem indicar a necessidade de acompanhamento médico.

“Um ciclo regular, onde a menstruação vem de tempos em tempos (a cada 28 dias, 30 dias, 35 dias, 25 dias), tende a significar um ciclo saudável”, explica Ellen Vieira, obstetriz e integrante do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde. Ela acrescenta que características como a coloração vermelho vivo do sangramento, ausência ou presença de poucos coágulos e a inexistência de corrimentos ou secreções com odor fétido, além da falta de cólicas incapacitantes ou outras dores intensas, também são sinais de um ciclo menstrual saudável.

Quando a ausência de menstruação é considerado um sinal de alerta?
O ciclo menstrual costuma se iniciar entre os dez e 13 anos de idade. Nos primeiros anos, é comum que o ciclo leve um tempo para se estabilizar, já que o corpo ainda está em fase de crescimento e reorganização hormonal. “Nestes casos, durante a adolescência, é mais provável que a ausência de menstruação tenha a ver com o processo de maturação do corpo. A partir dos 18, 20 anos, esse ciclo já tende a começar a se regular”, conta a especialista.

Se a pessoa não tem um ciclo regular, precisa entender as causas da irregularidade. Já se a pessoa já tem um ciclo regular e ele pausar por mais de três meses, pode ser um sinal de atenção. “Sempre importante lembrar que no caso de atraso menstrual para quem tem relações sexuais com penetração de pênis, é preciso descartar a possibilidade de gestação antes de pensar em infeções ou doenças”, alerta.

Algumas pessoas optam por não menstruar de forma intencional, utilizando contraceptivos hormonais de forma contínua. Segundo Ellen, essa prática pode trazer riscos à saúde, especialmente para quem apresenta fatores de risco como tabagismo, histórico familiar de trombose, hipertensão, diabetes, idade acima de 35 anos, além de condições específicas, como doenças cardíacas, AVC prévio e determinados tipos de câncer.

Ela observa que suspender a menstruação por opção é uma possibilidade recente – de menos de 100 anos –, e existem poucos estudos sobre. “O que podemos observar é que essa escolha fala sobre as poucas opções de cuidado ofertados pela ginecologia moderna para desconfortos durante a menstruação, sobre o tabu social e em como os ciclos femininos não são compreendidos e incluídos na vida social como um funcionamento normal dessa corporalidade”, diz.

Mariana Lima, mestranda em Direitos Humanos, Cidadania e Políticas Públicas, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e pesquisadora sobre pobreza menstrual, traz um conceito chamado “menstruação decolonial”. Ele questiona a visão dominante que trata o corpo que menstrua como algo que deve ser controlado ou até apagado para se encaixar em padrões sociais e produtivos. Isso pode levar muitas pessoas a suprimir a menstruação.

Muitas vezes essa escolha está ligada à exigência do capitalismo: de ter de ser produtiva o tempo todo. Então, muitas mulheres se submetem a tomar remédios constantemente para parar de menstruar. Porque ‘a mulher moderna não menstrua’. Como se fosse algo ultrapassado.

A ideia da menstruação decolonial propõe justamente o contrário: entender melhor o próprio corpo, ter acesso a outras formas de cuidado e a métodos contraceptivos que não obrigam a parar de menstruar. É uma forma de lembrar que o ciclo menstrual é parte natural da vida e que deveria ser levado em conta – e respeitado – na forma como vivemos em sociedade.

No Brasil, 713 mil meninas vivem em casas sem banheiro ou chuveiro, e mais de 4 milhões não têm acesso a itens básicos de higiene menstrual nas escolas. Os dados são do estudo “Pobreza Menstrual no Brasil: desigualdade e violações de direitos”, lançado em 2021 pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Essa falta de acesso é chamada de pobreza menstrual e afeta principalmente meninas pretas e pardas.

Acesse a matéria no site de origem.

Nossas Pesquisas de Opinião

Nossas Pesquisas de opinião

Ver todas
Veja mais pesquisas