(Rede Brasil Atual, 04/05/2016) Estudos que avaliam apenas a presença das mulheres nas instituições de ensino tornam invisíveis as desigualdades de acesso entre as próprias mulheres, avalia pesquisadora
O fato de as mulheres brasileiras terem mais anos de estudos do que os homens na média nacional não pode significar que as desigualdades de gênero na educação tenham sido superadas. Isso porque só garantir o acesso a escolas e universidades não quer dizer que as mulheres mais pobres tenham aumentado sua escolaridade, nem que tenha deixado de existir desigualdades entre homens e mulheres no acesso e na permanência escolar.
“Garantir o acesso ainda é importante, mas não se pode dizer que situação da mulher foi resolvida. Senão, poderíamos dizer que, por termos uma presidenta, as questões de gênero estão superadas. Precisamos saber quem são as mulheres com alta escolaridade e que condições têm para alcançar isso”, avaliou Ingrid Leão, integrante do Comitê Latino Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (Cladem), que participou do seminário nacional Gênero nas Políticas Educacionais: ameaças, desafios e ação política, ontem (3), em São Paulo.
O Comitê é uma das instituições responsáveis por avaliar como as políticas de educação do Brasil são descritas para a Organização das Nações Unidas nos relatórios oficiais. “Houve mudanças nas informações, o que representa mudanças nas políticas internas, mas ainda é tudo muito novo. A lei Maria da Penha, por exemplo, mudou a forma de fazer política. E ela só apareceu nos relatórios a partir de 2006, quando foi criada”, explicou.
No Brasil, as mulheres estudam por mais tempo que os homens. Em 2010, 12,5% das mulheres com 25 anos ou mais tinham completado o ensino superior. Entre os homens, o percentual era de 9,9%. Entre as jovens de 18 a 24 anos, 15,1% frequentava um curso de graduação contra 11,4% dos homens na mesma idade, de acordo com o estudo Estatísticas de Gênero 2014 – uma análise dos resultados do Censo Demográfico 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“O foco das pesquisas é ainda a educação das mulheres, mas isso não significa que ela está avaliando gênero. Quando eu falo só de educação de mulheres, eu torno as desigualdades entre mulheres e entre homens e mulheres invisíveis. Precisamos de indicadores que meçam quantitativa e qualitativamente essas desigualdades”, reiterou. “Não se trata de desqualificar a informação que existe, mas de atentar para a necessidade de também sistematiza-las, com foco em desigualdade de gênero, para saber quem são as que não alcançam (a escolaridade plena) e por que?”.
Como o problema é comumente verificado nos países que enviam dados para a ONU, o órgão está editando uma recomendação geral para meninas e mulheres na educação. O documento, que deve ser aprovado em três anos, trará diretrizes para que os países membros possam combater as desigualdades de gênero dentro dos processos educativos.
Os Estados membros da ONU que se comprometeram a alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – uma série de metas para ampliar direitos básicos – teriam até 2015 para implantar ações que eliminassem as desigualdades entre os gêneros no ensino primário e secundário. O Brasil alcançou a meta quantitativa, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Os demais países também avançaram, porém em algumas regiões do mundo as mulheres continuam minoria nas escolas, nos cargos de chefia e na vida política. A média global de mulheres no parlamento é de apenas 20%, segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano de 2013.
Sarah Fernandes
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