Diretora executiva da rede Women in Film & Television, de Toronto, veio ao Rio participar do seminário ‘Mulheres no audiovisual’, promovido pela Ancine
“Tenho mestrado em História da Arte e trabalho com cultura e arte há 25 anos. Em 2011, tornei-me diretora executiva da WIFT-Toronto. Tem sido, para mim, uma tremenda oportunidade de aprendizado, e fico honrada de partilhar do talento, da criatividade e da paixão dos nossos colaboradores.”
(O Globo, 12/04/2017 – acesse no site de origem)
Conte algo que não sei.
Mulheres tiveram 30% dos papéis com fala e dirigiram apenas 7% dos 250 filmes com maior bilheteria nos Estados Unidos, no ano passado. É um retrato da disparidade existente entre homens e mulheres na indústria audiovisual.
A indústria audiovisual, de modo geral, é machista?
A palavra machista é muito forte, mas ainda existe, de fato, uma grande distância entre o número de homens e mulheres trabalhando na indústria, tanto na frente como por trás das câmeras. Também há disparidade na quantidade de cargos de liderança ocupados e nos salários pagos às mulheres que ocupam os mesmos cargos que homens.
Por que isso acontece?
Em parte, porque existe um viés inconsciente que leva as pessoas a contratarem quem é parecido com elas ou quem já está no mercado, que historicamente é composto por homens e, geralmente, brancos. É importante haver igualdade, inclusão e diversidade na indústria, seja de mulheres, indígenas, pessoas com deficiência ou homens que estejam em minorias, porque, hoje, o conteúdo na tela não reflete a sociedade.
Esse quadro está mudando?
Nas últimas três décadas, a situação não mudou muito, mas nos últimos três anos vimos o tema da igualdade de gêneros se tornar uma preocupação global. Com isso, temos recebido notícias de muitas iniciativas com o objetivo de dar um impulso às mulheres nesse mercado. Apesar de representarem 50% da população mundial, as mulheres não têm 50% de participação nas produções audiovisuais.
Que iniciativas são essas?
A Suécia tem liderado esse movimento. A agência nacional de filmes da Suécia traçou a meta de direcionar 50% dos seus financiamentos para projetos liderados por mulheres. Outros países têm seguido a mesma linha. Há iniciativas semelhantes no Reino Unido, na Austrália e, agora, no Canadá. Estamos muito empolgadas e esperamos que ações como essa deem mais espaço para as mulheres.
Como atua a Women in Film & Television?
É uma organização composta por homens e mulheres que trabalham em indústrias baseadas em tela, incluindo cinema, TV e mídia digital. O objetivo é dar suporte às mulheres para que progridam na carreira. Fazemos isso através de programas de desenvolvimento profissional, mentorias, networking e promoção de eventos que mostram ao mundo a criatividade de nossos membros.
Qual será o impacto, para as produções, da maior participação das mulheres?
As mulheres ainda são pouco vistas como protagonistas de filmes ou como personagens multidimensionais. A desigualdade de gêneros por trás das câmeras se reflete na tela. Por isso, é importante termos mulheres contando e dirigindo histórias.
As mulheres que não fazem parte da indústria audiovisual podem abraçar essa causa?
Com certeza. Estudos mostram que as mulheres representam 50% do público pagante no cinema. Como parte representativa da audiência, todas nós temos certo poder, simplesmente escolhendo os filmes a que vamos assistir. Indiretamente, esse tipo de informação chega até os organizadores de festivais e financiadores da indústria. Definitivamente, as mulheres têm voz e podem fazer com que ela seja ouvida.