08/07/2012 – Líder do experimento Atlas defende mulheres na Ciência

08 de julho, 2012

(O Estado de S. Paulo) A italiana Fabiola Gianotti, que trabalha no Cern há mais de 20 anos, diz que ‘nada indica que mulheres têm aptidões mais fortes por ciências humanas’. Gianotti foi uma das principais figuras durane a apresentação dos resultados da experiência que confirmou a existência do bóson de Higgs

Por trás do que seria a maior descoberta da física em décadas não está um cientista barbudo e introvertido, mas sim uma mulher que insiste em reforçar a ideia de que, perante a ciência, todos são iguais. Fabiola Gianotti é a líder do experimento Atlas, que detectou no Cern os sinais claros de uma nova partícula que poderia ser o bóson de Higgs. Fabiola não é apenas a encarregada pelo trabalho que custou US$ 8 bilhões, mas um espelho da nova geração de cientistas e um golpe contra a ideia de que a ciência só é feita por homens.

Ela tinha 2 anos quando o britânico Peter Higgs formulou a teoria que explicaria pelo menos parte do universo. Hoje, a italiana de 49 anos está diante do experimento que reúne 3 mil físicos de 169 instituições em 37 países. Ao Estado, Fabiola faz um apelo: “Garotas, estudem ciências. Somos ótimas nisso”.

A italiana não chegou à posição por acaso. Há 13 anos atuava como coordenadora de Física do Atlas. Tem um doutorado em Física subnuclear pela Universidade de Milão e com apenas 25 anos começou a trabalhar no Cern. Para liderar o projeto que na quarta-feira promoveu uma pequena revolução, Fabiola foi democraticamente eleita pelos colegas cientistas.

Sua imagem seria tão forte para revelar uma nova direção quanto o anúncio da descoberta. Enquanto os demais cientistas usavam terno e gravata, nem sempre do melhor gosto ou combinando, Fabiola apareceu diante das câmeras de todo o mundo de camiseta. Não se intimida diante de grandes públicos, mistura ciências e piadas em sua apresentação e esbanja entusiasmo com os detalhes de suas descobertas.

Pianista. Mas nem sempre a família a direcionou para as ciências. No ensino médio, Fabiola, como muitas meninas na Itália, foi para um colégio que privilegiava as ciências humanas e artes. Virou pianista, com título reconhecido pelo prestigioso Conservatório de Milão. Mas foi sua paixão pela natureza que a fez mergulhar no campo da Física. Ela conta como queria entender o que estava ao seu redor. “Era mesmo uma paixão para mim.”

No Cern, apenas 30% dos cientistas são mulheres. Há 20 anos, esse número não chegava a 15%. Para Fabiola, não há motivos para pensar que meninas têm mais aptidão para trabalhos sociais. “Na realidade, mesmo se olharmos por esse prisma, a ciência é um grande trabalho social”, argumenta. “O que descobrimos no Cern pode levar à cura de doenças e à redução do sofrimento humano que nenhum trabalho conseguiria realizar”, defende.

Sobre o fato de a maior descoberta da Física em anos ter um rosto feminino, Fabiola não esconde o orgulho. “Espero que isso mande um recado claro a todas as meninas no mundo, de que somos capazes de ser cientistas e não há nada que possa nos impedir. Os tabus precisam acabar e não há nada na ciência que indique que mulheres têm aptidões mais fortes por ciências humanas e não matemática.”

Ela recusa o argumento de que mulheres teriam uma visão sobre a ciência que seria diferente do homem. “Isso não existe. Somos todos iguais perante a ciência”, declarou. “Fomos convencidas de que nosso lugar era outro. Isso acabou.”

Acesse em pdf: Líder de experimento defende mulheres na Ciência (O Estado de S. Paulo – 08/07/2012)

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Entenda por que o bóson de Higgs ficou conhecido como “partícula de Deus”:
‘O apelido vem do título do livro de Leon Lederman, o prêmio Nobel que durante anos caçou a partícula (a busca pelo bóson de Higgs durou ao todo 45 anos!). Lederman conta que originalmente queria dar ao livro o título em inglês “The Goddamn Particle” (“A partícula Amaldiçoada por Deus” ou simplesmente “A Desgraçada da Partícula”). A ideia era demonstrar sua frustração em não tê-la encontrado. Porém, o editor do livro achou que, com a exclusão de “desgraçada” do título, o livro venderia bem mais. A coisa vingou -para o livro de Lederman e para a partícula.’ – Encontrado o bóson de Deus, por Marcelo Gleiser (Folha de S.Paulo – 08/07/2012)

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