(UOL Notícias) As mulheres estudam mais, trabalham mais -dividindo-se entre o emprego e os cuidados com a casa- e ganham menos. Este é o retrato das mulheres chefes de família que o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) elaborou a partir do cruzamento de dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) 2009, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O estudo mostra que, de 2001 a 2009, a proporção de famílias chefiadas por mulheres no Brasil cresceu de 27% para 35% (ou 21.933.180 de famílias).
Há mulheres solteiras, separadas ou viúvas com filhos, solteiras sem filhos que moram sozinhas, mas há também um perfil que chama a atenção: o das mulheres casadas que chefiam a família mesmo tendo um marido ou companheiro em casa, com ou sem filhos. Neste caso, segundo o Ipea, “o tradicional arranjo casal com filhos com um homem como ‘cabeça do casal’ passa a ser substituído por situações em que a mulher é tida como a pessoa de referência na casa”. Em 2009, 14,2% dos casais com ou sem filhos eram chefiados por mulheres.
Estudam mais e ganham menos
A mulher de um casal sem filhos recebe, em média, 80% do salário de um homem. No casal com filhos, a renda da mulher chefe de família equivale a 73% da renda média de seu marido. De qualquer modo, a mulher continua ganhando menos do que o homem.
De maneira geral, as mulheres estudaram mais anos, e as chefes de família com filhos apresenta a mais alta escolaridade. Para os pesquisadores, os dados significam que a educação não interfere na posição de chefia da família.
Trabalham mais, dentro e fora de casa
O aumento do número de mulheres chefes de família mulheres não trouxe mudanças nos valores familiares tradicionais. O trabalho doméstico não foi transferido para os homens, e elas continuam tendo que se dividir entre a jornada de trabalho remunerada e a doméstica.
Jornada média total de trabalho por semana no Brasil – 2009 (em horas)
Destaques da análise do IPEA:
“A tradicional responsabilização das mulheres pelos afazeres domésticos não somente parece permanecer intocada ao longo dos anos, como também não sofre influência da posição ocupada pela mulher na família. Apesar de haver algumas diferenças, mulheres na posição de chefe e na posição de cônjuge respondem por grande parte do trabalho não-remunerado, essencial para a reprodução das famílias.”
“Elas trabalham no mercado e aportam renda para a casa, mas também dedicam muito tempo aos cuidados com a casa e com os filhos. O resultado são jornadas totais de trabalho de impressionantes 66,8 horas por semana, em média.”
“A histórica determinação do lugar das mulheres na sociedade como assentado na reprodução biológica, com ênfase na maternidade e na realização de afazeres domésticos, definiu a esfera privada como o espaço feminino”.
Nas famílias em que o homem cria os filhos sozinho, ele gasta cerca de 15 horas semanais com os afazeres domésticos, enquanto as mulheres gastam 25 horas. Isso pode significar, de acordo com o IPEA, que “homens delegam as atividades a outras pessoas –os próprios filhos, se forem mais velhos, ou outras mulheres, empregadas domésticas ou mulheres da relação de parentesco, como mães e irmãs”.
“A grande responsabilização feminina pelos afazeres domésticos e a existência dessa divisão de tarefas tende a trazer prejuízos para todos os membros da família, especialmente quando se pensa na sobrecarga de trabalho cotidiano das mulheres e na ausência ou menor presença da figura paterna na educação das crianças.”
Acesse em pdf: Mulher chefe de família é a que trabalha mais, em casa e no emprego, diz Ipea (UOL Notícias – 11/11/2010)