(Folha de S.Paulo) O epidemiologista Eduardo Franco aponta falhas graves no sistema brasileiro de rastreamento de lesões precursoras de câncer de colo do útero e defende uma vacinação geral. Hoje, a vacina contra o HPV (papilomavírus humano) só está disponível na rede privada, a um custo médio de R$ 1.000. Franco afirma que, se o país vacinasse meninas e meninos em idade escolar, o câncer de colo de útero poderia ser erradicado.
Veja a seguir trechos da entrevista:
“Folha – Hoje a vacina no Brasil só está disponível na rede privada e é cara. O que pensa a respeito? O preço é um obstáculo para a vacinação?
Eduardo Franco – A vacina é cara na rede privada, mas o custo não seria o mesmo para a adoção subsidiada na rede pública. A Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) já garante um custo de US$ 15 por dose na América Latina. Se o Brasil participasse desse pool, esse custo seria ainda mais reduzido.
Você critica a forma como o rastreamento do câncer de colo de útero é feito no país. Quais são os problemas?
Hoje existe um excesso de exames. A prevenção é feita por um teste obsoleto, que é o teste citológico, o papanicolaou. Na maioria dos países avançados ele já foi substituído. Há tecnologias melhores, como o teste molecular, que rastreia a presença do vírus.
Mas o teste molecular custa mais caro, não?
Sim, e esse é mais um motivo para a resistência do governo em adotá-lo. É o mesmo argumento de que a vacina custa caro, mas a lógica é a mesma: se adotar de forma universal, o preço cai.
O que você acha que falta para acontecer essa mudança?
Falta coragem política e informação técnica correta. Infelizmente existe um certo imobilismo que não existe só no Brasil, mas numa série de países. Existe toda uma especialidade médica, que é a citopatologia, que vive de fazer exames citológicos. Uso a seguinte analogia: se você tem uma caixa de ferramentas e a única que você tem é o martelo, você vai procurar prego.
Como vê as novas diretrizes do Inca (Instituto Nacional de Câncer) que aumentam a idade do rastreio de 59 anos para 64 anos?
É irrelevante, porque o câncer de colo de útero aparece mais no início da atividade sexual. Vão descobrir casos que já estão além de qualquer possibilidade terapêutica.”
Leia a entrevista completa: Exames inúteis só atrapalham a luta contra o HPV (Folha de S.Paulo – 17/07/2011)