(O Globo) Ficar mais velho faz parte da vida, mas os tecidos que formam nosso corpo têm diferentes ritmos de envelhecimento, mostra estudo que revelou um relógio biológico capaz de deduzir com alta precisão a idade cronológica de uma pessoa e compará-la com a idade genética de várias partes de seu organismo. A pesquisa verificou, por exemplo, que as mamas são o tecido em que o ritmo deste relógio é mais acelerado, sendo em média dois a três anos mais “velhas” do que as mulheres de onde foram retiradas as amostras. Já o coração tende a manter-se jovem por mais tempo, com uma idade genética em geral cerca de nove anos inferior à cronológica. Além disso, o ritmo do relógio não é constante, “batendo” mais depressa durante a infância e adolescência até estabilizar em um passo mais lento ao chegarmos à maturidade.
Coração parece mais jovem
Para montar o relógio, Steve Horvath, professor da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), e sua equipe primeiro analisaram informações públicas de quase 8 mil amostras de 51 tipos de tecidos humanos em busca de dados sobre pequenas alterações químicas do DNA conhecidas como metilação. Com isso, eles tabularam como a idade afeta os níveis de metilação no genoma dos seres humanos desde antes do nascimento até os 101 anos, focando então em 353 marcadores de processos de metilação diretamente ligados à idade. Em testes, o relógio com base nestes marcadores indicou 96% de chance de identificar a idade cronológica dos doadores das amostras com uma margem de erro de no máximo 3,6 anos.
— Para lutar contra o envelhecimento, primeiro precisamos de uma maneira objetiva de medi-lo — defende Horvath. — Meu objetivo ao inventar esta ferramenta de previsão da idade é ajudar os cientistas a melhorar seu entendimento sobre o que acelera e o que freia o processo de envelhecimento humano. É surpreendente como foi possível desenvolver uma ferramenta que pode medir o tempo através de toda anatomia humana, já que minha abordagem realmente comparou maçãs com laranjas, ou, neste caso, partes bem diferentes do corpo, incluindo cérebro, coração, pulmões, fígado, rins e cartilagens.
Mas embora a idade genética de boa parte dos tecidos acompanhe de perto a cronológica, em alguns casos, como no das mamas, isso não acontece. Horvath acredita que isso acontece devido à constante exposição delas a diferentes níveis de hormônios. Já o coração parece mais jovem provavelmente graças à ação de células-tronco recrutadas para repararem o músculo cardíaco ao longo da vida.
Numa segunda etapa da pesquisa, Horvath usou seu relógio para medir o envelhecimento genético de tecidos cancerosos a partir de dados sobre os níveis de metilação de quase 6 mil tumores de 20 tipos diferentes de câncer. Ele verificou que em média os tumores são geneticamente 36 anos mais velhos que os tecidos saudáveis em torno deles, numa possível explicação do por que de a idade ser um dos maiores fatores de risco para o desenvolvimento do câncer.
— Mas enquanto o tecido mamário saudável é de dois a três anos mais velho que o resto do corpo da mulher, se ela tiver câncer de mama o tecido saudável próximo ao tumor é em média 12 anos mais velho — conta Horvath, acrescentando que isso também pode ajudar a explicar por que o câncer de mama é o mais comum entre elas.
Por fim, Horvath usou seu relógio também para medir o envelhecimento genético das chamadas células-tronco de pluripotência induzida, produzidas a partir de células adultas forçadas a regredir a um estágio de desenvolvimento similar ao das embrionárias e que têm o potencial de se diferenciarem em qualquer tecido do corpo. Segundo ele, os testes mostraram que estas células-tronco “são como recém-nascidas”.
— O processo de transformar as células de uma pessoa em células-tronco de pluripotência induzida zera o relógio — diz Horvath, acrescentando que isso prova que, a princípio, é possível reverter o envelhecimento. — A grande questão é se este relógio controla o envelhecimento. Se sim, ele pode ajudar estudos de abordagens terapêuticas para nos manter jovens.
Acesse o PDF: Pesquisa mostra que o relógio do DNA dos seios ‘bate’ mais rápido (O Globo – 23/10/2013)