26/10/2013 – Políticas francesas se unem para combater o sexismo

26 de outubro, 2013

(Folha de S.Paulo) O machismo está por toda parte na França. Manifestações de indignação vêm pipocando por toda parte, no Assembleia Nacional e em conselhos locais, na imprensa, diante das explosões misóginas de homens franceses.

Agora, graças à identificação dos culpados por meio das redes sociais, as francesas, que até agora talvez simplesmente fizessem vista grossa, estão reagindo.

A reação de repúdio se deu após um incidente até banal: um político da oposicionista UMP na Assembleia Nacional humilhou uma adversária, fazendo sons de cacarejo durante a fala dela num debate sobre a reforma das pensões lançada pelo governo.

O som sugeria que ela fosse uma “poule”, insulto que significa, literalmente, “galinha”, mas que designa também uma mulher tola.

Aparentemente, o político tinha retornado ao recinto da Assembleia após um jantar fartamente regado a álcool ao lado de colegas homens, que riam e o incentivavam.

A deputada Véronique Massonneau, que discursava naquele momento e foi alvo do insulto, exigiu que os sons parassem. Mas o deputado Philippe Le Ray continuou a cacarejar até que o presidente da Assembleia anunciasse um recesso.

“Ele foi um idiota”, disse Massonneau. “Durante o recesso, fui até onde ele estava sentado e lhe perguntei por que estava sendo tão idiota. Ele não respondeu. Estava evidentemente desinibido, digamos assim.”

A sessão parlamentar foi retomada.

A recém-nomeada ministra da Habitação, Cécile Duflot, do partido Europe-Ecologie-Les Verts (EELV), também vem sendo alvo de comportamentos sexistas.

Foi criticada fortemente por deputadas de centro-direita por “faltar com o respeito” pelo fato de ter usado jeans em sua primeira reunião de gabinete.

Depois, quando compareceu à Assembleia Nacional de vestido florido, foi alvo de vaias e assobios de escárnio. Duflot disse ao jornal “Guardian” que ficou chocada e surpresa com a “mediocridade” do comportamento.

“Para ser franca, achei simplesmente inacreditável esse nível de comportamento. Mas a reação que vem ocorrendo está mostrando que o sexismo não é aceitável.” “Acho que o meio político está atrasado em relação à sociedade, neste quesito”, acrescentou. “Na vida real, é difícil imaginar que uma empresária ou executiva seria tratada como ‘poule’ ao discursar.”

E a ex-ministra dos Esportes Chantal Jouanno, na época da UMP, revelou ter sido sujeita a comentários obscenos sempre que usava saia em sessões parlamentares. As ministras já estão acostumadas a ouvir perguntas sobre cabelos ou maquiagem, frequentemente feitas por apresentadoras de rádio ou TV.

Mas alguma coisa no “Poulegate” capturou a imaginação pública. No dia seguinte, um grupo de deputadas, em sua maioria de esquerda, decidiu chegar atrasado à sessão da Assembleia, em sinal de solidariedade.

“As invectivas e os insultos que sofri não foram piores do que o normal, mas o incidente simbolizou um sentimento generalizado de estarmos fartas do modo como as mulheres são tratadas”, disse Massonneau.

“Se o problema é com o que eu estou dizendo, se alguém discorda de mim, não tenho problema algum com isso. É diferente quando a crítica diz respeito à aparência física, ao modo de se vestir ou de falar, só por eu ser mulher.”

O deputado Le Ray, 45 anos, pediu desculpas e foi multado em um quarto de seu salário mensal –uma penalidade raramente aplicada, logo, simbólica.

A paridade de gênero nas eleições parlamentares existe na França há 13 anos, mas os partidos preferem pagar multas a aceitar mais mulheres. Dos 577 deputados na Assembleia Nacional, 155 são mulheres. No Senado, das 348 cadeiras, 77 são ocupadas por mulheres.

Acesse o PDF: Políticas francesas se unem para combater o sexismo (Folha de S.Paulo – 26/10/2013)   

 

 

 

 

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