(Sabine Righetti, da Folha.com) Parece roteiro de filme pornô: três mulheres de salto e vestidinho invadem, desfilando, o laboratório de um cientista compenetrado no seu microscópio. O vídeo, no entanto, é parte de uma campanha da UE (União Europeia) para atrair garotas para a ciência.
Desde que veio à tona, no dia 21, a sequência de imagens de menos de um minuto tem sido alvo de críticas em redes sociais.
A principal reclamação é a maneira sexista como a mulher é representada na campanha “Science is a girl thing” (Ciência é coisa de garotas), lançada pela UE há uns dez dias.
Por causa do bafafá, o vídeo foi retirado da página da campanha na internet, mas pode ser assistido no site YouTube e já passa de meio milhão de visualizações.
No lugar do vídeo criticado, a UE postou um novo vídeo com o depoimento de mulheres cientistas. Mas a troca não acalmou os ânimos e nem as críticas.
“A ideia da campanha é ótima, mas o vídeo foi um verdadeiro desastre”, analisa a socióloga Maria Conceição da Costa, que coordena o Núcleo de Estudos de Gênero Pagu, da Unicamp.
O site da campanha, recheado de cor-de-rosa e de imagens ligadas à beleza (no lugar do “i” da palavra “science”, por exemplo, há o desenho de um batom), também tem sido alvejado na internet.
“Eu não uso batom e sou cientista”, postou uma pesquisadora no YouTube. “Finalmente um vídeo para convencer minhas colegas pesquisadoras a desistirem da ciência”, escreveu outro cientista.
Questionada pela Folha, a assessoria de imprensa da União Europeia não quis comentar o vídeo retirado do site da campanha –e nem comentou o próprio site.
Mas, em nota, reforçou que o objetivo da “Science is a girl thing” é atrair principalmente adolescentes para a ciência.
Hoje, 45% dos estudantes de doutorado na Europa são mulheres. No entanto, apenas um terço de quem segue carreira como pesquisador é do sexo feminino.
Os estudiosos de gênero acreditam que isso acontece por causa do “teto de vidro”, um obstáculo invisível que a mulher enfrenta na carreira caracterizado principalmente pela maternidade.
“Até 2020 a Europa precisará de mais de 1 milhão de novos pesquisadores. A ideia da campanha é estimular as mulheres a fazerem parte desse número”, afirmou a nota.
Acesse em pdf: Campanha científica ‘machista’ causa polêmica na Europa (Folha.com – 29/06/2012)