29/09/2011 – Mulher brasileira é estereotipada na mídia portuguesa

29 de setembro, 2011

(CLAM) Diante da forma estereotipada com que a mulher brasileira vem sendo representada na mídia lusitana, movimentos e entidades portuguesas lançaram um manifesto criticando essa tendência. O texto cita a Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres (Cedaw/ONU), da qual Brasil e Portugal são signatários. Um exemplo é a personagem Gina, do programa de animação “Café Central”, da Rádio Televisão Portuguesa (RTP). Na atração, Gina é uma prostituta brasileira retratada como maníaca sexual.

Leia abaixo a íntegra do manifesto:

Manifesto em repúdio ao preconceito contra as mulheres brasileiras em Portugal

Vimos por meio deste, manifestar nosso repúdio ao preconceito contra as mulheres brasileiras em Portugal e exigir que providências sejam tomadas por parte das autoridades competentes.

Concretamente, apontamos a comunicação social portuguesa e a forma como, insistentemente, tem construído e reproduzido o estigma de hiper sexualidade das mulheres brasileiras. Este estigma é uma violência simbólica e transforma-se em violência física, psicológica, moral e sexual. Diversos trabalhos de investigação, bem como o trabalho de diversas organizações da sociedade civil, têm demonstrado como as mulheres brasileiras são constantemente vítimas de diversos tipos de violência em Portugal.

O estigma da hiper sexualidade remonta aos imaginários coloniais que construíam as mulheres das colônias como objetos sexuais, escravas sexuais, e marcadas por uma sexualidade exótica e bizarra. Cita-se, por exemplo, a triste experiência da sul-africana Saartjie Baartman, exposta na Europa, no século XIX, como símbolo de uma sexualidade anormal. Em Portugal, esses imaginários coloniais, infelizmente, ainda são reproduzidos pela comunicação social.

Teríamos muitos exemplos a citar, mas focaremos no mais recente, o qual motivou um grupo de em torno de 140 mulheres e homens, de diferentes nacionalidades, a mobilizarem-se, a partir das redes sociais, para escrever este manifesto e conseguir apoio de diferentes organizações da sociedade civil. Trata-se da personagem “Gina”, do Programa de Animação “Café Central” da RTP (Rádio Televisão Portuguesa). A personagem é a única mulher do programa, a qual, devido ao forte sotaque brasileiro, quer representar a mulher brasileira imigrante em Portugal.

A personagem é retratada como prostituta e maníaca sexual, alvo dos personagens masculinos do programa. Trata-se de um desrespeito às mulheres brasileiras, que pode ser considerado racismo, pois inferioriza, essencializa e estigmatiza essas mulheres por supostas características fenotípicas, comportamentais e culturais comuns. Trata-se de um desrespeito a todas as mulheres, pois ironiza/escarnece sua sexualidade, sua possibilidade de exercer uma sexualidade livre, o que pode ser considerado machismo e sexismo.

Trata-se, ainda, de um desrespeito às profissionais do sexo, pois ironiza o seu trabalho, transformando-o em símbolo de deboche/piada/anedota, sendo que não é um trabalho criminalizado em Portugal, portanto, é um direito exercê-lo livre de estigmas. Destacamos que o fato é agravado por se tratar de uma emissora pública, a qual em hipótese alguma deveria difundir valores que ferem o direito das mulheres e da dignidade humana.

Exigimos, das autoridades competentes, que se faça cumprir a “CEDAW – Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres”, da qual tanto Portugal, como o Brasil, são signatários. Destacamos, também, o “Memorando de Entendimento entre Brasil e Portugal para a Promoção da Igualdade de Gênero”, no qual consta que estes países estão “resolvidos a conjugar esforços para avançar na implementação das medidas necessárias para a eliminação da discriminação contra a mulher em ambos os países”.

Organizações e Movimentos Sociais que apoiam e subscrevem o Manifesto:

Associação ComuniDária – comunidade solidária à pessoa imigrante, sensível às questões de género e com iniciativas diversificadas de integração

Observatório das Representações de Género nos Média, UMAR – União de Mulheres Alternativa e Resposta

Movimento SlutWalk Lisboa

Coordenação Portuguesa da Marcha Mundial de Mulheres

Casa do Brasil de Lisboa

Coordenação do Manifesto: Contatos: [email protected]

Clique aqui para assinar a petição online.

Veja em PDF: Mídia e estereótipos de gênero (CLAM – 29/09/2011)

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