(Agência Patrícia Galvão, 24/04/2015) Estudo realizado pelo Instituto Data Popular com 1069 moradores de favelas revela que a maioria delas se sente estigmatizada pela sociedade. Para 82% das moradoras, ter uma boa aparência é fundamental para ser aceita fora da favela. Ainda assim, mesmo que se sujeitem aos padrões impostos pela sociedade, 58% das entrevistadas consideram que quem vive nas comunidades tem menos oportunidades de progredir na vida do que os que vivem no asfalto.
O dado é reforçado por outro estudo feito pelo Instituto Data Popular com 3050 moradores de 150 cidades mostra que o preconceito continua a ser uma realidade enfrentada pelas comunidades. Segundo a pesquisa, 47% dos brasileiros nunca contratariam um trabalhador que morasse na favela para trabalhar em sua casa.
Somado ao preconceito, as moradoras sofrem também com a precariedade dos serviços públicos. Numa escala de 0 a 10, a nota média dada pelas moradoras para as políticas públicas, como aneamento básico, posto de saúde, transporte público entre outros existentes nas comunidades é 4,94. Os serviços de segurança e saúde foram os que obtiveram as piores avaliações, com 3,27 e 3,59, respectivamente. A melhor foi para o serviço de coleta de lixo, com 6,59.
A segurança pública foi ainda o serviço que mais piorou no último ano, na opinião das moradoras. A maioria das entrevistadas (76%) vive em comunidades que não foram pacificadas pela Polícia, e se dividem sobre a necessidade da intervenção no local: 49% são contra e 43% a favor. Mas quando se trata da violência policial, há quase um consenso entre as mulheres: 75% consideram que a Polícia é mais violenta do que deveria e 65% acreditam que ela se torna ainda mais violenta na favela.
Mulheres são críticas e estão descrentes
A pesquisa atual aponta também que a maioria das moradoras das favelas brasileiras está descrente sobre o cenário atual do Brasil. Elas acreditam no poder do voto, que para 68% é um importante instrumento de transformação, mas na opinião de 7 em cada 10 moradoras, o Brasil está no rumo errado.
As mulheres constituem mais da metade da população das favelas brasileiras – 6,3 milhões – majoritariamente concentradas nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Dessa população, 58% tiveram o primeiro filho antes dos 20 anos, 51% se declara parda e 18% preta. Juntas, elas somam um montante de renda anual de R$ 24 bilhões e chefiam 40% dos lares. Entre as que contam com trabalho remunerado, 44% têm emprego formal. E em dez anos dobrou a escolarização de nível médio dessas mulheres, saltando de 16% para 30%.
Pesquisa anterior já apontava descontentamento
O descontentamento com os serviços disponíveis já era apontado por pesquisa anterior do Instituto Data Popular, realizada em parceria com o Instituto Patrícia Galvão e o Data Favela, em que foram entrevistadas 1.501 pessoas maiores de 18 anos, em 100 municípios, de 10 a 18/05/2013. Na época, 55% dos moradores afirmaram não ter acesso a hospital público na comunidade, 50% relataram ausência de posto policial na favela e 32% mencionaram a falta de creches públicas.
Nesse mesmo levantamento, 51% dos moradores de favelas, homens e mulheres, afirmaram conhecer alguma mulher que já sofreu agressão de um atual ou ex-parceiro e 46% conheciam algum homem que já agrediu a parceira.