O dia em que carregamos a Tocha Olímpica para mulheres e meninas, por Phumzile e Thaiza

05 de agosto, 2016

(ONU Mulheres, 05/08/2016) Por Thaiza Vitória, 15 anos, jogadora de handebol brasileira e membro do programa “Uma vitória leva à outra” no Rio de Janeiro, e Phumzile Mlambo-Ngcuka, Diretora Executiva da ONU Mulheres. As duas carregaram a Tocha Olímpica no dia da cerimônia de abertura das Olimpíadas do Rio de Janeiro

À primeira vista, pode parecer que somos de dois mundos distintos. Duas mulheres de países diferentes e de gerações diferentes. A primeira vez que nos vimos foi sob a chama Olímpica e descobrimos que não somos tão diferentes: compartilhamos uma esperança ardente por um mundo onde a igualdade de gênero não seja um luxo, mas sim a norma. Quando caminhamos lado a lado, dividindo a grande honra que foi levar a Tocha Olímpica pelas ruas do Rio de Janeiro, representávamos mais do que apenas nós mesmas. Estávamos ali representando todas as mulheres e meninas do planeta, metade da população mundial.

Historicamente, a Chama Olímpica representa o valor da pureza. Os corredores que a carregam passam uma mensagem de paz na sua jornada. Ao carregar a chama nesta época de conflito generalizado no mundo, pensamos no quão importante é a contribuição das mulheres para os processos de paz. Sabemos que a participação das mulheres nas mesas de paz aumenta consideravelmente a probabilidade de acordos serem assinados e da manutenção da paz. Também sabemos que manter a paz é algo mais complexo do que terminar uma guerra. A paz verdadeira acontece com o direito de viver sem o medo da violência, livre de discriminação, alcançando o nosso potencial, nas nossas famílias, comunidades, escolas, ambientes de trabalho ou nas quadras esportivas. A cada passo que tomamos sob aquela chama, levamos a tocha adiante com a mensagem da igualdade de gênero.

Naquela curta caminhada, seguimos os passos de mulheres pioneiras, tais como a regatista Hélène de Pourtalès, a primeira mulher a ganhar uma medalha olímpica (1900); Enriqueta Basilio, a primeira mulher a acender o Caldeirão Olímpico nas Olímpiadas do México (1968) e Flor Isava Fonseca, a primeira mulher no Conselho Executivo do Comitê Olímpico Internacional (1990).

Carregamos a Tocha Olímpica celebrando as milhares de mulheres atletas que participarão dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro e que, com a sua agilidade e determinação na arena esportiva, aumentam a visibilidade das mulheres como grandes ícones do esporte, pensadoras estratégicas, exemplos femininos e líderes. Também carregamos a chama para todas as jovens e meninas nos mais distantes vilarejos do mundo que lutam contra todas as adversidades para fazer esportes, continuar a treinar e usufruir liberdades mais amplas.

Desde a primeira participação de mulheres nas Olimpíadas em 1900, elas vêm derrubando barreiras e reduzindo a discriminação sexual. Hoje, nos Jogos do Rio, quase alcançamos a paridade em termos de participantes e eventos. No entanto, do lado de fora, ainda permanecem grandes obstáculos contra a igualdade plena. No Brasil, assim como em vários outros lugares do mundo, mulheres jovens e adolescentes ainda sofrem a pressão de aderir a tradições e estereótipos sociais. Elas têm menos autonomia sobre os seus corpos e muitas vezes não têm acesso a um ambiente que as ajude a desenvolver habilidades esportivas. Em contraste, os seus pares do sexo masculino usufruem de novos privilégios conforme crescem, reservados exclusivamente para os homens, incluindo autonomia, mobilidade e poder. Globalmente, apenas uma em cada cinco parlamentares é do sexo feminino e uma em cada três mulheres no mundo sofre de violência. Se a velocidade atual da mudança permanecer como está, levaremos outras oito décadas para que as mulheres alcancem igualdade no local de trabalho.

Mas a transformação está vindo de várias direções, com movimentos internacionais como o “ElesPorElas” da ONU Mulheres, onde os homens tomam a iniciativa de combater a discriminação e restabelecer expectativas, com as campanhas locais por salários iguais e com programas como “Uma vitória leva à outra” no Brasil, onde meninas carentes do Rio de Janeiro irão desenvolver habilidades de liderança por meio do esporte, melhorando a sua capacidade de influenciar decisões que impactam as suas vidas em todos os níveis.

Ao caminhar pela alegre multidão das ruas do Rio de Janeiro, fomos testemunhas de que o esporte une pessoas de todos setores da sociedade, com o poder de deixar para trás diferenças de gênero, raça, religião e nacionalidade. Esperamos que essa chama se espalhe e que a determinação em alcançar a igualdade de gênero transcenda todos os tipos de obstáculos.

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