Contra a padronização dos nossos desejos e contra a heterossexualidade compulsória, é preciso que nos questionemos coletivamente
Existe um sistema de dominação múltipla que classifica as identidades e os corpos. Ele nos identifica como homem ou mulher e define a heterossexualidade como “normal”, enquanto outros corpos e identidades sexuais dissidentes muitas vezes nem chegam a ser nomeados. Esse é o mesmo sistema que nos categoriza com base na raça e na etnia, mantendo o branco como superior. Também nos classifica de acordo com a classe, entre ricos e pobres. Nos classifica com base na geopolítica, dividindo-nos entre Norte e Sul, e geograficamente, entre urbano e rural. Nos classifica conforme uma série de outras categorias, incluindo sobrenomes, identidade, deficiência, nome, origem, religião.
Nesse sistema de classificação, todo o segmento superior – homens heterossexuais, brancos, ricos, do Norte global e da cidade – está formado, geralmente, pelos proprietários dos meios de produção, que controlam as dinâmicas de funcionamento da sociedade, dos Estados e das leis. Na parte inferior estão as pessoas mais pobres: mulheres, lésbicas, indígenas e população negra, pessoas trabalhadoras, do Sul global e do campo.
Construímos identidades a partir do que o próprio sistema nos impôs como categorias, questionando a origem desse sistema de classificação e a quem serve nos nomearmos como tal.
Então, por que é importante falar sobre nossos corpos?
Margarita Pisano diz que “o corpo é o instrumento com o qual tocamos a vida”. É o órgão que nos concede a conexão vital com o resto do cosmos, com a natureza. É a energia que nos permite promover transformações coletivas e pessoais.