Mal começamos a prestar atenção e já entram na reta final as eleições 2016, pelo menos naquelas cidades onde a parada vai se definir em primeiro turno, dia 2 de outubro. Eleições atípicas: mais curtas e com menos dinheiro. Campanhas relâmpago, quase. Alguém percebeu diferenças? Na boca do gol, e quando se pede que o eleitor declare de forma espontânea (sem apresentar nenhum nome) em quem vai votar, a maioria diz não saber ou que vai clicar em branco ou anular. Estão nesta zona de indefinição ou rejeição a todos os candidatos 48% dos eleitores da cidade de São Paulo, 62% dos eleitores cariocas e 62% em Belo Horizonte, segundo dados do Datafolha do início de setembro. E como sempre acontece, as mulheres seguem mais indefinidas do que os homens: 54% delas em SP, 65% no Rio e 68% em BH dizem não saber ou pretendem clicar branco ou anular na urna quando perguntadas na chamada pesquisa espontânea, que revela a consolidação do voto
(Rogério Jordão, 01/10/2016 – acesse no site de origem)
Maioria do eleitorado (52% dos votantes no país segundo o TSE) serão elas que definirão as eleições em muitas cidades brasileiras. Pelo visto deixarão para o último minuto. Podem definir o rumo de quem vai para o segundo turno em cidades onde a disputa está embolada, como São Paulo (54% dos votantes são mulheres) e Rio (55%).
Indefinição de voto a poucos dias de votação não é novidade no Brasil. Na eleição municipal de 2012, por exemplo, por esta época do ano, a poucas semanas do pleito, diziam não saber ou que anulariam ou votariam em branco 42% dos paulistanos, 40% dos cariocas e 41% em Belo Horizonte, com as mulheres mais indecisas do que os homens. A diferença em 2016 é que estes números estão bem mais altos do que no passado. Por que será? Reflexo da desilusão na política? Motivos locais? Rejeição aos partidos?
Seja como for, a definição do voto feminino, que muitas vezes apresenta tendências específicas – um candidato (a) pode ter proporcionalmente mais votos entre mulheres do que entre homens, por exemplo – é um momento decisivo para qualquer corrida eleitoral. Dessa vez não será diferente.
No livro “Mulheres nas Eleições 2010” o demógrafo José Eustáquio Diniz Alvez avançou algumas hipóteses, que parecem interessantes:
“Em vez de indecisas, as mulheres seriam mais exigentes e gostariam de conhecer melhor as candidaturas. Da mesma forma que as mulheres são consumidoras mais exigentes e cuidadosas, elas só definem o voto quando são convencidas das qualidades pessoais e programáticas das candidaturas”, escreveu ele. “Outra interpretação estaria relacionada com a exclusão feminina da política. Neste caso, a recusa em definir o voto com rapidez pode ser entendida como uma reação feminina ao fato de a maioria das mulheres estar alijada dos cargos de direção dos partidos e do governo”.
Eu acrescentaria, ainda, uma outra possibilidade: frequentemente as mulheres tem uma vida cotidiana mais apertada do que os homens. Muitas trabalham fora e dentro de casa – a chamada dupla jornada. No geral cuidam (mais do que os homens) das crianças. Por tudo isso, elas deixam para prestar atenção na política na hora em que as coisas se definem, que os candidatos já expuseram a que vieram – e possam dizer, de fato, o que pretendem para melhorar suas vidas. Em 2016 a pergunta que está no ar em muitas cidades é: encontrarão alguém até o dia da urna?