A subsecretária-geral da ONU e diretora executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka, participa, até este sábado (10), do 13º Fórum Internacional da AWID Futuros Feministas. O encontro é promovido pela Associação para os Direitos das Mulheres e o Desenvolvimento (AWID), na Bahia, e tem a presença de duas mil pessoas de mais de cem países.
(ONU Mulheres, 10/09/2016 – acesse no site de origem)
Na quinta-feira (8), primeiro dia do evento, Phumzile se reuniu com mais de 30 mulheres negras brasileiras, latino-americanas e africanas numa expressão de apoio da ONU Mulheres ao enfrentamento do racismo no âmbito da Década Internacional de Afrodescendentes, criada pelas Nações Unidas, para promover a valorização de negras e negras por meio da justiça, desenvolvimento e eliminação da discriminação racial. O diálogo deu continuidade à relação estabelecida pela diretora com o grupo, acentuado na Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver, ocorrida em novembro de 2015, durante a primeira visita oficial ao Brasil.
“Essa forma de organização das mulheres negras brasileiras é única e muito forte. Não tem só que se manter, mas se visibilizar. Nos outros países, os problemas podem ser os mesmos. Têm muitos países com muitos problemas. Mas não tem essa mobilização de mulheres negras. E isso deve se manter”, disse Phumzile Mlambo-Ngcuka. A diretora manifestou o interesse de a ONU Mulheres organizar uma reunião sobre a intersecção de gênero e raça, para aumentar a articulação das ativistas no contexto da Década Internacional de Afrodescendentes.
Phumzile mencionou, ainda, a agenda internacional de acordos globais, ressaltando os 25 anos do Plano de Ação de Pequim, em 2020. O documento é uma referência nos direitos das mulheres devido à definição de 12 metas globais para o empoderamento das mulheres e a igualdade de gênero. A diretora citou o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) nº5, voltado à igualdade de gênero, o qual deve absorver a dimensão racial.
“O primeiro ponto do ODS 5 é acabar com todo o tipo de discriminação contra todas as mulheres. Quando falamos da discriminação, temos de ter um foco especializado em raça. Nos próximos cinco anos, nós, juntas, temos muito trabalho para fazer”, frisou Phumzile Mlambo-Ngcuka.
A diretora também enfatizou a necessidade de as mulheres participarem ativamente das eleições como candidatas e na escolha de políticas e políticos que tenham compromisso com o empoderamento das mulheres. “É preciso motivar candidatos e candidatas a falar sobre o seu foco e a sua entrega integral de seus compromissos com as mulheres negras brasileiras”, considerou. Sobre o empoderamento político das mulheres, Phumzile completou: “Temos que ter as mulheres certas nos espaços de poder”.
Democracia, violência, saúde e trabalho – A ativista dominicana Sérgia Galvan, da Rede de Mulheres Negras Latinoamericanas, mostrou preocupação com a democracia e a garantia dos direitos humanos das mulheres. “Há uma estratégia da direita. O que passa no Brasil coloca em risco também a democracia em outros países na região e obviamente as mais afetadas, no caso de Honduras, foram as mulheres negras. Estamos com uma ameaça permanente”, avaliou.
Para Lúcia Xavier, integrante da ONG Criola e membro da Articulação de Mulheres Negras Brasileiras, o racismo expõe a população negra à violência, às doenças e à insegurança no mercado de trabalho. Lúcia falou sobre a vulnerabilidade das trabalhadoras domésticas, porque “elas têm sido as primeiras a sofrer com a crise econômica pela qual o país passa não só com a diminuição de empregos, mas também pela redução de direitos”. Sobre a crise sanitária das arboviroses, denunciou: “Nos preocupa também o que vai acontecer com as mulheres ao enfrentar a epidemia de zika, chikungunya e dengue, que só revela as violações no campo da saúde. Mas também revela a total falta de segurança, de assistência a que as mulheres negras são submetidas. E lembrando que a maioria delas são jovens e terão de pagar o ônus da consequência dessa epidemia”, concluiu.
Alianças na diáspora – A moçambicana Paula Assobuji comentou os laços que unem as mulheres negras na diáspora e sugeriu a realização de uma marcha global das afrodescendentes. “O crescimento das forças conservadoras não acontece só no Brasil ou na África do Sul. Acontece também no meu país, Moçambique. Tudo aquilo que vi e aprendi aqui sobre a Marcha das Mulheres Negras foi muito forte. Foi muito positivo. Me fez acreditar que a mudança é possível. Que daqui cinco anos nós tenhamos uma marcha de mulheres negras do mundo”, propôs.
Ao final do encontro, a representante da ONU Mulheres Brasil, Nadine Gasman, reiterou o compromisso da entidade com as mulheres negras brasileiras. “Vocês sabem que, para a ONU Mulheres, a intersecção entre gênero e raça é central. Temos sido parceiras muito honradas da Marcha e seguimos comprometidas, porque achamos que o movimento de mulheres negras vai seguir fazendo a diferença neste país”, afirmou.
Marcha das Mulheres Negras – Cerca de 50 mil mulheres participaram da Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver, em novembro de 2015, num momento histórico da luta pela igualdade de direitos, por um país mais justo e democrático e pela defesa de um novo modelo de desenvolvimento baseado na valorização dos saberes e da cultura afro-brasileira. A marcha é uma iniciativa de diversas organizações e coletivos do Movimento de Mulheres Negras e do Movimento Negro, além de contar com o apoio de importantes intelectuais, artistas, ativistas, gestores e gestoras, comunicadores e comunicadoras e referências das mais diversas áreas no Brasil, América Latina e África. A proposta da Marcha surgiu durante o Encontro Paralelo da Sociedade Civil para o Afro XXI, realizado em 2011, em Salvador, capital do estado da Bahia. A partir de então, mulheres negras e do movimento social deram início às mobilizações para a Marcha.