(Portal Terra) Além de ser “extremamente positivo” o simbolismo de haver uma mulher na Presidência da República, durante os quatro anos de governo Dilma Rousseff o Brasil avançará em termos de políticas públicas voltadas para as mulheres. Essa é a opinião da cientista política Teresa Sacchet, do Núcleo de Pesquisas de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo.
“O discurso (logo após o anúncio da vitória) dela foi muito afirmativo no sentido das políticas públicas do novo governo… Ela poderia ter feito um discurso neutro, como tinha mais ou menos feito durante a campanha. Ela se colocou como mulher. Não só falou das desigualdades de gênero e da intenção de fazer algo sobre isso, mas falou para os pais e para as mães para educarem suas meninas, dizendo que elas também podem (ser presidentes). Isso sinaliza algo muito importante e, portanto, me leva a crer que, sim, esse governo vai olhar com mais carinho para as questões de gênero”, afirma a cientista, que lembra, entretanto, que a participação feminina na política brasileira ainda está muito longe do ideal e que, por mais que a presença de Dilma Rousseff no mais alto cargo da nação possa funcionar como estímulo, é preciso ainda muito mais para reverter o quadro de desigualdade entre os sexos no que diz respeito ao acesso ao poder.
“Temos problemas institucionais. O problema sério aí é o financiamento eleitoral, público e privado. São discussões que vamos precisar trazer. Não basta ter uma mulher na presidência para aumentar o número de mulheres nas posições de poder.”
Leia trechos da entrevista concedida ao Terra:
Terra Magazine – Durante pronunciamento oficial, logo depois da vitória, Dilma Rousseff afirmou que ser a primeira mulher eleita presidente do Brasil era uma “demonstração do avanço democrático do país”. Qual o simbolismo, na opinião da senhora, de se ter, pela primeira vez, uma mulher na Presidência do Brasil?
Teresa Sacchet – Avalio que é extremamente positivo, pelo teor simbólico, ter uma mulher na presidência, no cargo mais importante da nação. Agora, se você me perguntar a importância de se ter uma mulher como a Dilma na presidência, aí, eu acho que há outros fatores que agregam. Você não pode isolar a figura da mulher do projeto partidário, do projeto governamental.
É uma variável importante sempre que se analisa o gênero, porque potencializa, cria maiores possibilidades de que uma agenda mais voltada para os interesses das mulheres seja representada na esfera pública. Eu creio que o fato de a pessoa ter vivido, ter tido uma experiência, seja ela mulher, seja negra… Acredito que as diferentes identidades contribuem para trazer para o legislador, nesse caso, na esfera executiva, uma perspectiva diferente da política.
Acho que a experiência de vida é um fator importante e potencializa a representação de políticas mais voltadas para os interesses desses grupos que falei. No entanto, não há garantias. Não se pode dizer que toda mulher vai ser boa representante de uma mulher. Tivemos na Inglaterra a Margareth Tatcher, que muitos dizem que foi o contrário. Benefícios muito importantes para as mulheres foram cortados durante a gestão dela. Dizem que ela fez um desfavor às mulheres.
Por outro lado, o simples fato de ter uma mulher como primeira ministra, na avaliação de alguns analistas, foi importante para incentivar as meninas a, por exemplo, pensarem que podem ser primeiras-ministras também.
As questões de gênero não estiveram muito presente no discurso de Dilma ao longo da campanha…
Teresa Sacchet – Eu diria no primeiro turno. No segundo turno, apareceram um pouco mais. No primeiro turno, muito pouco. Não se discutiu, nos programas eleitorais ou mesmo nos debates, políticas públicas, fazendo uma relação com a questão de gênero. Houve uma perda de oportunidade de, primeiro, fazer um apelo ao voto das mulheres, sabendo-se que elas eram a maioria dos eleitores e a maioria dos indecisos.
A senhora acha o País avançará no que diz respeito a políticas públicas voltadas para as mulheres?
Teresa Sacchet – Creio profundamente. No domingo, ela (Dilma) foi muito feliz em ter iniciado o discurso daquela forma. Eu tinha algumas críticas, mas, no segundo turno, o PT explorou melhor essa discussão. Não como poderia ter feito, mas essa agenda começou a participar mais da campanha.
O discurso dela foi muito afirmativo no sentido das políticas públicas do novo governo. Ela fez também uma tentativa de convocar as forças sociais e políticas a se juntarem em torno de um projeto político. Uma tentativa de união de forças com a oposição e com diferentes grupos da sociedade. Mas, além disso, o que foi interessante, foi o fato de ela ter se colocado como mulher… Ela poderia ter feito um discurso neutro, como tinha mais ou menos feito durante a campanha. Ela se colocou como mulher.
Não só falou das desigualdades de gênero e da intenção de fazer algo sobre isso, mas falou para os pais e para as mães para educarem suas meninas, dizendo que elas também podem (ser presidentes). Isso sinaliza algo muito importante e, portanto, me leva a crer que, sim, esse governo vai olhar com mais carinho para as questões de gênero.
Há quem diga que Dilma se submeterá a Lula? Existe nesse pensamento uma ideia preconceituosa implícita?
Teresa Sacchet – Quando Lula assumiu a Presidência da República, ouvíamos isso em relação a ele. O fato de ele ser um trabalhador fazia com que muitos acreditassem que não tinha capacidade para governar. E, por muito tempo, foi dito isso, que ele era fantoche nas mãos de alguns quadros no partido. É muito estranho que agora o Lula seja colocado nessa posição do grande manipulador.
Leia a entrevista na íntegra: Políticas para mulher vão avançar no País, aposta cientista (Portal Terra – 02/11/2010)
Contato:
Teresa Sacchet – cientista política e pesquisadora
Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da USP
São Paulo/SP
(11) 3091-3272 (nupps) / 8110-3570
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