07/11/2010 – Eleição de Dilma é um avanço, mas o ‘teto de vidro’ ainda não foi quebrado (Época)

08 de novembro, 2010

(Época) A socióloga Lourdes Maria Bandeira, professora do departamento de sociologia da Universidade de Brasília, discute o significado da eleição de Dilma Rousseff para as mulheres – e os homens – do país e afirma que, embora essa vitória represente uma ruptura no padrão masculino de representação do poder, não deve ser suficiente para remover os obstáculos que as mulheres enfrentam.

Leia alguns trechos da entrevista que Lourdes Bandeira, que é também subsecretária de Planejamento e Gestão Interna da Secretaria de Políticas para as Mulheres, concedeu à revista Época.


“O fato de termos uma mulher na presidência pela primeira vez na história significa que o chamado ‘teto de vidro’, as barreiras invisíveis que atrapalham o desenvolvimento feminino, foi finalmente quebrado?
Lourdes Bandeira –
A presença de uma mulher na presidência da República significa uma ruptura com o padrão masculino historicamente estabelecido na ocupação e representação do poder. Deve-se destacar também que a presença da presidenta Dilma Rousseff causará mudanças nas interações sociais, nas dinâmicas de trabalho, nos campos jurídicos, econômicos, entre outros. É sabido que, atualmente, ainda se verificam várias desvantagens, opressões e explorações às mulheres. Ainda permanecem muitas disparidades e desigualdades, por exemplo, na esfera salarial e nos inúmeros limites a elas impostos para alcançarem o topo de suas carreiras, e no exercício das duplas e triplas jornadas de trabalho, por continuarem responsáveis pelas atividades domésticas. As situações de violências contra as mulheres, inclusive, nos espaços de trabalho, ainda persistem. Portanto, o ‘teto de vidro’ ainda não foi quebrado definitivamente.

A participação das mulheres na política brasileira ainda é muito pequena – não chega a 12% do Congresso –, apesar de haver uma lei de cotas para aumentar o número de candidatas desde 1997. Quais são os principais obstáculos para as mulheres na política do país?
Lourdes Bandeira –
São diversas as causas que inviabilizam (ou excluem) a participação feminina na política. De maneira resumida, são elas: a ainda tímida posição ocupada pelas mulheres nos espaços públicos da sociedade; a estrutura político-partidária que continua sendo muito restrita e autoritária, com escassos espaços e recursos ao acesso das mulheres; a falta de educação política e de uma cultura política desvinculadas de um olhar ‘masculino’, pelo qual as mulheres ainda se caracterizam como subordinadas aos homens na sociedade e não são reconhecidas como sujeitos políticos. Por fim, vale destacar que a lei de cotas, mais uma vez, não foi cumprida pelos partidos políticos, ainda que sua obrigatoriedade tenha sido aprovada na minirreforma eleitoral de 2009. Os partidos políticos ainda resistem a uma nova e necessária divisão do poder.

Por que é necessário aumentar a participação feminina na política?
Lourdes Bandeira –
A importância da maior presença feminina no Congresso Nacional é possibilitar que as diferenças de ideias, de reivindicações possam interagir e dialogar. A ausência da diferença possibilita a expressão e a reprodução das desigualdades entre mulheres e homens. Além disso, é fundamental conjugar uma política de presença com uma política de ideias que coloque o tema da igualdade de gênero como central também para os homens.”

Leia a entrevista na íntegra: Lourdes Maria Bandeira: A primeira “presidenta” do Brasil (Época – 07/11/2010)
Veja também: “Sei que Dilma vai se sair muito bem” (Época – 08/11/2010)

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