09/10/2012 – Caciques políticos discriminam mulheres nas eleições

09 de outubro, 2012

(Blog Roldão Arruda) De acordo com levantamento realizado pelo demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, neste ano foram eleitas 7.648 mulheres para as câmaras municipais de todo o País e outras 663 para as prefeituras. Na comparação com a eleição anterior, em 2008, isso representou um avanço. No caso das câmaras, elas passaram de 12,5% para 13,3% do total de cadeiras disponíveis. Nas prefeituras, a variação foi de 9,1% para11,8%.

Se a comparação for feita, porém, com a presença das mulheres no conjunto da população e com outros níveis de atividades, a variação foi medíocre. Qual a razão disso? Na entrevista abaixo, Alves, que é professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas, no Rio, afirma que os resultados refletem sobretudo a resistência dos caciques partidários à presença de mulheres na política. “O funil está nos partidos”, afirma.

Seu levantamento aponta um aumento da participação das mulheres. Dá para comemorar?

É um avanço. Mas ainda está muito aquém do se esperava, especialmente quando se considera que elas são a maioria da população e do eleitorado, conquistam cada vez mais espaço no mercado de trabalho, já ultrapassaram os homens em todos os níveis de educação e possuem uma esperança de vida mais elevada. Até nas Olimpíadas elas se destacam mais. Em Londres e Pequim conquistaram duas três medalhas do Brasil. Pode-se lembrar também que temos uma mulher na Presidência da República e que foi uma mulher, à frente do Tribunal Superior Eleitoral, que comandou o processo eleitoral deste ano.

Como é a situação em outros países?

Desde as recomendações da Conferência Internacional de Mulheres, em Pequim, em 1995, diferentes países começaram a estimular a presença de mulheres na política, especialmente por meio de cotas. Ocorreram avanços na maior parte deles. A média mundial de mulheres de mulheres em cargos em câmaras federais hoje é de 23%. Na Argentina, em Cuba e nos países nórdicos chega a 40%. No Brasil, ainda é de 8,6%. É a pior situação da América do Sul.

A que atribui esses resultados?

Quando passou a vigorar a política de cotas para mulheres nas eleições, os partidos entenderam que bastava reservar para elas um número de vagas entre os candidatos, sem a obrigação de preenchê-las. Mais tarde, quando mudou a interpretação da lei, por imposição do TSE, eles passaram a lançar mulheres laranjas, donas de casa, secretárias e mães dos dirigentes partidários, muitas delas sem condições de competir, que estão ali só para preencher a cota obrigatória.

Como explica isso? Ao preconceito do eleitorado? À ideia de que mulher não vota em mulher?

O eleitorado não discrimina as mulheres. O exemplo mais claro disso apareceu nas eleições presidenciais de 2010, quando concorreram nove candidatos, dos quais sete eram homens. Ao final do primeiro turno, as duas mulheres conquistaram 67% do total dos votos. Ora, se os brasileiros são capazes de confiar a Presidência da Reopublica a uma mulher, porque não votariam nelas para cargos em prefeituras e câmaras municipais?

Qual seria então a razão dessa baixa representação?

O problema está no controle dos partidos. São os homens que controlam os principais cargos, os recursos partidários e o processo de escolha de candidatos. O funil está na máquina partidária. Não existe nenhum partido no Brasil presidido por mulher. A Marina Silva, depois de obter quase vinte milhões de votos na eleição presidencial, foi praticamente forçada a se retirar do PV.

E o caso da presidente Dilma Rousseff?

Ela só conseguiu ir adiante porque o Lula apoiou. Se fosse contar apenas com a estrutura do PT não teria saído como candidata. Foi um caso excepcional, que deixou o Brasil à frente dos Estados Unidos e França. Esses dois países, apesar de sua longa e importante tradição democrática, nunca elegeram uma mulher para o cargo de presidente.

 

Acesse em pdf: Caciques políticos discriminam mulheres nas eleições (Blog ROldão Arruda – 09/10/2012)

 

 

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