(O Estado de S. Paulo) Em entrevista à reporter Vera Rosa, a vice-presidente do Senado, Marta Suplicy (PT-SP), fala do projeto contra a homofobia e sobre união civil, avalia o tema do aborto e as eleições de 2010 e defende o avanço na legislação sobre interrupção da gravidez.
Projeto de lei contra homofobia
“O projeto de lei contra a homofobia já tem as assinaturas suficientes. É possível aprová-lo numa casa tão conservadora como o Senado?
O projeto contra a homofobia está pronto, maduro para ser votado e conta com uma compreensão e respaldo maior porque a sociedade quer ser mais civilizada. Esse último episódio de agressão, que ocorreu na Avenida Paulista, deixou as pessoas extremamente indignadas. Foram ações homofóbicas violentíssimas.
União civil
A sra. vai trabalhar pela aprovação da união civil entre pessoas do mesmo sexo e pela defesa da descriminalização do aborto?
São dois temas pelos quais eu trabalhei a vida inteira. Sempre tive um olhar para esse segmento. Temos de pensar que o Brasil teve um retrocesso, nesses últimos anos, em relação às duas questões. Mais visivelmente em relação à união civil para os homossexuais e mais midiaticamente na questão do aborto na campanha. No caso da parceria civil houve avanços gigantescos no Judiciário e no Executivo. Quem se acanhou foi o Legislativo, que se apequenou nesses anos, ignorando o que a sociedade já aceita.
Tema do aborto e eleições
Como a sra. avalia a forma como o tema aborto foi tratada na campanha da então candidata Dilma Rousseff?
A manipulação eleitoral da questão foi extremamente nociva para as duas candidaturas (Dilma Rousseff e José Serra). E, para as mulheres, mais ainda. A discussão não levou a nada, além de uma visão conservadora, que dificulta os caminhos de retomada da serenidade com a qual o assunto precisa ser tratado. Foi ruim para os dois candidatos, um desastre.
Dilma e descriminalização do aborto
Só que em 2007 ela chegou a defender a descriminalização do aborto…
A Dilma foi até o limite de onde poderia ir, sendo do PT. Ela se comprometeu a não enviar projeto de lei ao Congresso. A campanha foi odiosa, de retrocesso. O próprio Serra disse coisas que duvido que diga particularmente. Foi muito desagradável tudo o que ocorreu.
As igrejas e o tema do aborto
Como contornar a oposição da Igreja Católica e dos evangélicos em relação a esse tema?
Vamos ter conversas, com respeito, mas esse tema tem que avançar. Nós não somos o Afeganistão.
Reprovação da peça polêmica contra Kassab, eleição 2008
Mas na sua campanha à Prefeitura, em 2008, um programa de TV causou polêmica ao perguntar o estado civil do prefeito Gilberto Kassab e se ele tinha filhos. Em eleição vale tudo?
Foi um erro crasso do João Santana (publicitário da campanha), que assumiu. Eu só soube depois que o programa foi ao ar. Eu não tinha visto. Fiquei dois dias chorando. Quando eu vi aquilo, falei: “Vocês ficaram loucos?”
Autocrítica na forma de abordagem do senador Sarney
Dizem que a sra. é muito mandona. Corrigiu até o senador Sarney e pediu questão de ordem para lembrar que Dilma deveria ser chamada de “presidenta”, e não de “presidente”. Há alguma semelhança em seu estilo com o de Dilma, que também tem essa fama?
Ai, meu Deus! (risos). Olha, quanto ao senador Sarney, eu me penitencio pelo que fiz. Não fiquei satisfeita comigo. Eu queria ter falado do simbolismo de Dilma ter escolhido a letra “a” para presidente. Mas deveria ter falado pessoalmente.
Mulheres no poder têm de ser duras para obter reconhecimento?
Não acho que tenha a ver com ser mulher. Isso tem a ver com personalidade. São personalidades mais decididas, mais fortes, que acabam sendo rotuladas de mais autoritárias porque são mulheres. Se não fossem mulheres, não seriam nomeadas assim.”
Leia a entrevista na íntegra: ‘Não se trancam portas em política. Só faz isso quem mente’, afirma Marta Suplicy (O Estado de S. Paulo – 19/02/2011)