(Folha de S.Paulo) Leia o editorial na íntegra:
“Os nomes escolhidos por Dilma Rousseff para a composição do futuro ministério trazem, como já foi comentado neste espaço, a marca da continuidade com o governo Lula -e também seguem, em muitos casos, a característica tecnocrática, e algo cinzenta, do perfil da presidente eleita.
Num aspecto, entretanto, Dilma Rousseff soube fazer das nomeações de seu gabinete um ato pessoal de enunciação política bastante claro -e, para os padrões brasileiros, inovador. Prometera, na campanha eleitoral, indicar 30% de mulheres ao primeiro escalão; a cota que se autoimpôs vai sendo cumprida.
Numericamente, parece até modesta a proporção adotada. Basta acompanhar, contudo, a sequência das nomeações para ver, com surpresa, que o número de mulheres no futuro ministério começa a pesar de fato na balança.
Nada mais paternalista e contrário ao princípio do mérito pessoal do que estabelecer, pela via legislativa, alguma obrigatoriedade de cotas para o preenchimento de cargos públicos. O domínio do “politicamente correto” terminaria, sem dúvida, por imaginar cotas em profusão para minorias e grupos de interesse sem fim.
Dentro de uma margem de escolha pessoal, entretanto, como a que parcialmente admite a composição de um ministério, a opção de Dilma se justifica. Diante dos compreensíveis traços de continuidade que a ligam a Lula, confere-se uma marca de identidade própria à futura administração.
A circunstância de que se trata, pela primeira vez na história do país, de um governo chefiado por uma mulher tem uma simbologia que cabe, evidentemente, ressaltar -e que de certa maneira ficou ofuscada pelo fato de que a candidata, antes de tudo, surgia como uma criatura originada da vontade unipessoal do presidente Lula.
Símbolos, é claro, esvaem-se com rapidez. Nada garante que a presença de mais mulheres no ministério responda por maior competência, criatividade e lisura num governo. Casos nada abonadores, na própria esfera de atuação de Dilma Rousseff, tiveram mulheres como protagonistas, aliás -e não há, por certo, o que comemorar quando isso acontece.”
Veja o editorial em pdf: Mulheres no gabinete, editorial (Folha de S.Paulo – 19/12/2010)