(O Globo) A progressista ministra da Secretaria de Políticas para Mulheres, Eleonora Menicucci, pretende evitar temas polêmicos ao menos até a campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff em 2014. Após a repercussão de suas declarações em defesa do direito ao aborto, quando foi escolhida para a vaga, a amiga bem articulada e companheira de prisão durante a ditadura militar da presidente teve uma ação discreta neste primeiro ano de governo. E assim continuará.
A questão do aborto foi um componente forte na reta final da campanha presidencial de 2010, com prejuízo para a candidatura de Dilma. Em entrevista exclusiva ao GLOBO, quinta-feira em seu gabinete, a ministra Eleonora, uma das formuladoras da Política de Atenção Integral à Saúde da Mulher, disse que a questão do aborto será tratada pelo governo estritamente no sentido de garantir o que já está previsto na legislação.
Segundo interlocutores do Palácio do Planalto, a reclusão de Eleonora Menicucci está relacionada ao fato de que a pasta não está, neste momento, entre as prioridades de Dilma Rousseff, empenhada em incentivar o crescimento econômico. O uso político de temas como aborto e homossexualidade nas últimas campanhas eleitorais também provocou um recuo na exposição de opiniões do governo a respeito deles. Por orientação da presidente, a atuação da ministra deve ser voltada para implantar e ampliar as políticas de atenção à mulher já existentes.
Torturada durante a ditadura, Eleonora afirmou ao GLOBO que a secretaria não pretende oferecer subsídios para que sejam investigadas violações dos direitos das mulheres durante o regime militar para a Comissão da Verdade, como chegou a ser cogitado. Seu papel será apenas “responder de acordo”, se consultada pelo grupo.
A ministra afirma que a secretaria está acompanhando a questão do tráfico de mulheres e mudou o funcionamento do Ligue 180, para que passasse a funcionar como um serviço em que as mulheres recebem imediatamente indicações de como proceder em cada caso.
Mas ela admite que é desconhecida a dimensão do problema. Diz que a demanda pelo serviço, que funciona também em Portugal, Itália e Espanha, deve quadruplicar por conta da novela da TV Globo que está tratando o tema, “Salve Jorge!”. A ministra expressou preocupação especial com a questão durante a realização dos grandes eventos esportivos que o Brasil vai sediar nos próximos anos.
Em sua gestão, uma inovação foi a criação da Coordenadoria de Diversidade, que, entre outras questões, presta apoio aos casais LGBT que pretendem consolidar a união. Quanto à participação política das mulheres, acredita que ainda há muito a ser feito.
Acesse em pdf: Discrição da ministra Eleonora Menicucci pontua ações em prol das mulheres (O Globo – 24/11/2012)