(Extra, 30/07/2014) Apenas 9,6%. Este é o percentual de mulheres que atuam no Congresso Brasileiro. Para tentar ajustar esse quadro e incentivar eleitores a escolherem candidatas para representarem os interesses femininos, a paranaense Sharon Caleffi, de 35 anos, criou a página “Vote numa feminista”, no Facebook. Lançada no dia 22 de julho, o perfil já possui mais de 6.400 curtidas.
Segundo Sharon, para ter suas propostas divulgadas na página, não basta ser mulher. É preciso ter uma plataforma específica, com características listadas pela criadora na página, como a luta contra o preconceito de gênero e raça, propostas de melhoria das políticas públicas voltadas para as mulheres e defender a democratização do poder, com maior participação feminina.
– Ser mulher e ter pautas claras e em destaque sobre direitos das mulheres no material online são as principais exigências. Algumas das minhas amigas feministas já queriam ter usado nossos espaços online para divulgar as candidaturas feministas em 2012, mas houve discordâncias internas. Algumas não estavam de acordo em divulgar candidatura de partido Y, outras de partido X. Esse ano eu pensei no assunto e decidi, que, como eu, pessoalmente, não sou filiada a nenhum partido mesmo, iria fazer – contou Sharon, que é vinculada aos coletivos FemMaterna e Feministas das Araucárias.
Para começar, Sharon divulgou na página um pedido aos comitês para enviarem os perfis que julgavam serem adequados. Até agora, São Paulo lidera as indicações, com 11 candidatas à deputada estadual. O Paraná vem em segundo lugar, com quatro candidadas à deputada federal e cinco para estadual.
Além destes dois estados, Rio de Janeiro, Sergipe, Santa Catarina, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais e Pernambuco aparecem na lista, que já tem 47 nomes.
– Eu não tenho nenhum problema com nenhum partido, desde que a candidata seja feminista. Não enviei convite para partido nenhum. Todas as indicações foram voluntárias, de eleitoras, de comitês ou das próprias candidatas – explicou a organizadora da página.
Para Sharon, o retorno representa um aumento da participação feminina na política, em parte, como resultado do aperfeiçoamento da legislação.
Em 2009, a Lei 12.034 estipulou que os partidos passariam a ser obrigados a preencher o mínimo de 30 e o máximo de 70% de suas candidaturas para cada sexo. Com isso, cada sigla é obrigada a ter, pelo menos, 3 candidatas para cada 7 homens em sua lista. Caso as vagas não sejam preenchidas, os partidos ficam impossibilidados de concorrer.
– Alguns partidos não tem dado destaque às suas candidatas, ainda parece que apenas incluem elas por conta da lei, mas apostam suas fichas e seu dinheiro nas campanhas dos candidatos homens. Alguns partidos deixam suas mulheres no cantinho e praticamente não sabemos que elas estão concorrendo. Mas elas estão lá – alerta Sharon, para quem o ingresso de cada vez mais mulheres na política serve de exemplo para outras brasileiras.
– Eu apoio todas as candidatas mulheres e esse ano vou votar em mulheres para todos os cargos. Cada mulher que sobe leva muitas com ela. Cada mulher que cumpre seu mandato no governo inspira mais mulheres. E eu acredito que, mesmo que o número de mulheres candidatas tenha aumentado recentemente apenas por conta da lei dos 20%, nós podemos chegar mais longe do que isso e um dia conseguirmos a paridade. Ou melhor, teremos 51% da representação.
No Brasil, as mulheres representam 52% dos eleitores. Apesar disso, o número de brasileiras na política ainda está longe do ideal, como demonstrou o último relatório de Desenvolvimento Humano de 2014, divulgado na última quinta-feira pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). No índice de Desigualdade de Gênero, o Brasil ficou em 85º lugar, dentre 149 países analisados. A diferença na representatividade política foi um dos fatores que mais pesou contra.
De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral, nas últimas eleições municipais, em 2012, foram eleitas 657 prefeitas (11,84% do total) e 7.630 vereadoras, que representam apenas 13,32% dos eleitos. Nas eleições de 2010, quando a presidente Dilma Roussef se tornou a primeira mulher a assumir o cargo mais importante do país, apenas duas governadoras foram escolhidas, entre os 26 estados.
Ana Carolina Pinto
Acesse no site de origem: Página no Facebook reúne perfil de candidatas ao Congresso para estimular eleição de mulheres (Extra, 30/07/2014)
Nota da redação: Matéria atualizada em 18/08/2014 para correção do veículo de publicação original.