Por mais direitos, Marcha das Margaridas quer reunir 100 mil mulheres no DF

13 de agosto, 2019

Foram aproximadamente 36 horas em um ônibus, mas os quase 2.000 quilômetros que separam o município de Senador José Porfírio, no sudeste do Pará, de Brasília não assustaram a agricultora Elenice Castro. Desde dezembro de 2018, ela e outras mulheres da cidade organizam a venda de rifas e feijoadas para custear os gastos com transporte e logística para esta viagem. O esforço não foi em vão. Hoje e amanhã, Elenice estará na capital do país para participar da Marcha das Margaridas.

(UOL, 13/08/2019 – acesse no site de origem)

“É o momento de renovar esperança em favor dos nossos direitos e da maior participação das mulheres. Apesar da liberdade de muitas, ainda vemos que há opressão”, lamenta.

Realizada pela primeira vez em 2000, a marcha reúne camponesas de todos os estados para apresentar as demandas e propostas das mulheres do campo, da floresta e das águas. Coordenado pela Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), o evento se apresenta como maior ação de mulheres da América Latina e espera reunir mais de 100 mil pessoas.

O nome é uma homenagem à Margarida Maria Alves, líder sindical expoente da causa camponesa no estado da Paraíba assassinada no dia 12 de agosto de 1983. Ela foi responsável por centenas de ações trabalhistas e se tornou notável pela defesa de direitos para a população rural, como carteira de trabalho, décimo-terceiro salário e férias remuneradas. Neste ano, completam-se 36 anos do crime.

“Ainda somos ‘invisibilizadas’ na questão da igualdade de gênero. Para lutar contra a violência, precisamos de autonomia e renda. Por isso, as políticas públicas se fazem necessárias”, explica Edjane Rodrigues, Secretária de Políticas Sociais da Contag. Ela conta que, neste ano, a condução da pauta será diferente, seguindo uma plataforma política composta por 10 eixos principais, que passam pela conservação da sociobiodiversidade, autonomia econômica, liberdade das mulheres, defesa do SUS e previdência social.

O fim da violência contra as mulheres é uma das principais reivindicações da marcha. “Ela [violência] é uma das mais fortes e cotidianas expressões da sociedade patriarcal e machista em que vivemos, onde os homens são mais valorizados e se acredita que a mulher tem que obedecer, aceitar e levar a vida da forma como eles querem estabelecer”, manifesta o documento com as pautas apresentado em 2015 para o Congresso Nacional.

Como triunfos das marchas anteriores, ela enumera a titularização das terras em nome das mulheres, assistência técnica para trabalhadoras rurais e o direito a aposentadoria com 55 anos para o campo. “No atual cenário, tudo é prioridade para nós, desde a agroecologia até o combate à violência. Temos um projeto político que representa o conjunto das mulheres e conquista de espaço. Em 2019, nosso caráter é de denúncia”, aponta Edjane.

“Não baixaremos a guarda, pois, dentre outras coisas, estão em jogo nossas vidas, a democracia, o patrimônio do povo brasileiro, a agricultura familiar e os bens comuns da natureza. O Brasil e a democracia, mais do que nunca, precisam da luta das Margaridas”, expressa o manifesto escrito por Maria José Morais Costa, a Mazé, Coordenadora Geral da Marcha.

“Ocuparemos Brasília pela conservação do meio ambiente e valorização dos modos de vida reproduzidos no campo, na floresta e nas águas. Ocuparemos Brasília para lutar por democracia e soberania popular, com justiça social e em defesa dos nossos territórios. Ocuparemos Brasília para construir uma sociedade livre de violência de gênero e racial, por um país sem homofobia e sem intolerância religiosa”, continua o documento.
A Marcha das Margaridas nasceu nas comunidades ribeirinhas e das reivindicações das comunidades rurais, onde são realizadas mobilizações durante todo o ano. A agenda agora, porém, será mais ampla. “Queremos representar as mulheres dos campos, das florestas e das águas, mas a violência não está só no campo. Quando uma mulher rural é beneficiada, o conjunto inteiro também ganha com isso”, comenta Edjane.

Com o objetivo de subsidiar a marcha, as organizadoras criaram uma campanha de financiamento coletivo. O projeto contou com um vídeo apresentado pela atriz Letícia Sabatella e indicava que a cada R$ 100 levantados até três mulheres garantiriam sua presença. A meta de 80 mil reais foi batida com sobras e 1120 pessoas somaram o valor de R$ 131.457,00 arrecadados.

Letícia Sabatella será a cantora em um show de abertura do evento, que também contará com debates políticos, oficinas e painéis. Elenice enumera essas experiências como aprendizados. Além de agricultora, ela é secretária do sindicato dos trabalhadores rurais de Senador José Porfírio e Vice-coordenadora da Fetag Transamazônica e Xingu, e enxerga a marcha como um movimento de esperança.

Elenice conta que existem muitas exigências, mas defende que saúde, educação e desenvolvimento sustentável são as mais básicas. “São as necessidades do povo que vive trabalhando sob o sol todos os dias”, justifica.

Por Breno Damascena

Nossas Pesquisas de Opinião

Nossas Pesquisas de opinião

Ver todas
Veja mais pesquisas