O nome dela é Luiza Helena Trajano Inácio Rodrigues, mas o Brasil a conhece como Luiza Trajano, a dona do Magazine Luiza, sem dúvida uma das mulheres de negócios mais bem sucedidas do país. Luiza está em Paris para o lançamento oficial do núcleo francês do Mulheres do Brasil, grupo suprapartidário do qual é a presidente, criado há cinco anos com o objetivo de discutir temas como combate à violência contra a mulher, valorização da mulher executiva, mas também inserção de refugiados, igualdade racial, entre tantos outros. Luiza Trajano é a entrevistada desta quarta-feira (15) do RFI Convida.
(RFI Brasil, 15/11/2018 – acesse no site de origem)
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No Brasil, o grupo presidido por Luiza Trajano já conta com 20 mil mulheres, com núcleos espalhados por todos os estados. “O grupo começou há cinco anos, e é muito diverso. Temos mulheres de todos os segmentos, inclusive de classe baixa e líderes de comunidades. A gente acredita que é a sociedade civil quem vai transformar o país”, diz a empresária.
“Falta um pouco de autoestima no Brasil, de se sentir responsável pelo país. O grupo nasceu suprapartidário, o Brasil é bem dividido em esquerda e direita e a nossa proposta é ter só um partido que se chama Brasil”, especifica Trajano. “Não importa o que esquerda ou direita fizeram”, continua ela, lembrando que existem questões “inegociáveis” no grupo Mulheres do Brasil: “não podemos fazer propaganda de partido, nem negócios, senão vira Marketplace; não somos contra homens, mas a favor de mulheres”.
A expansão do Mulheres do Brasil em “filiais” no exterior vem de um desejo de pessoas que haviam feito parte do grupo e que gostariam agora de continuar o trabalho em seus países de adoção. “Temos mulheres em Portugal, e em Paris começamos a funcionar extraoficialmente há mais de oito meses. Já estamos na Inglaterra, na Alemanha, em vários lugares. São mulheres brasileiras, ou estrangeiras que gostaram de morar no Brasil e que agora querem devolver para o país alguma coisa”, afirma Luiza Trajano.
A empresária conta que um dos focos principais do grupo Mulheres do Brasil em Paris são mulheres que se sentem muito sós ou isoladas. “Algumas falam até em suicídio. Estamos trabalhando esse acolhimento a mulheres brasileiras na França. Também falamos sobre as leis francesas e abordamos a questão da violência, que é muito séria por aqui. Trabalhamos o local e o global. E o mais importante: estamos levando o conhecimento do que é bom nesses países para o Brasil, e vice-versa”, explica a empresária.
Uma líder de sucesso
Luiza Trajano transformou um pequeno varejo familiar em uma empresa com valor de mercado de mais de R$ 28 bilhões. Mas será que ela sofreu preconceito por ser uma mulher no comando? “Até hoje, 99% dos meus colegas [executivos] são homens. Você imagine isso 35 anos atrás, quando eu chegava em Franca, última cidade do interior do estado de São Paulo…. Eu fiz questão de não perder a minha essência, minha pronúncia, meu feminino… Como sou filha única, tenho um pouco de autoestima e, quando era meio discriminada, sempre conseguia me impor”, afirma.
“Passei a não ter dó de mim. Eu tinha muita confiança no que eu era capaz de fazer. Agora, eu luto muito ainda. Temos apenas 7% de mulheres em conselhos executivos de empresas no Brasil, listadas na Bovespa. Se você tirar as donas de empresas, como eu, e as filhas de donas, essa porcentagem cai para 3%. Vai levar 120 anos para que o país consiga ter entre 20% e 30% de mulheres em setores decisivos de negócios”, revela Trajano, que defende o sistema de cotas para mulheres nos conselhos executivos e cuja pressão, apoiada por milhares de brasileiras, conseguiu aprovar o projeto de cotas no Senado brasileiro.
“Aqui na França as cotas também foram adotadas”, lembra Trajano. E no Brasil? “As brasileiras achavam que as cotas tirariam a meritocracia do processo. Mas agora já mudaram. Eu dizia, ok, esperem então 120 anos para entrarem no conselho executivo, se vocês querem meritocracia”, lembra Luiza. “Cota é um processo transitório para consertar uma desigualdade. Seja para pobre, para negro, para tudo, eu sou totalmente a favor e nós conseguimos passar com unanimidade com esse projeto no Senado, de cotas para mulheres nos conselhos executivos das empresas. Agora vamos tentar passar no Congresso”, afirma Trajano.
“E a gente vai conseguir… 22 mil mulheres falando na cabeça deles, mandando WhatsApp, é diferente, certo?”, diverte-se a empresária.
Violência contra as mulheres
A questão da violência contra a mulher é importante para Luiza Trajano, que já contou em entrevistas à imprensa brasileira como o trágico episódio do assassinato de uma de suas gerentes pelo marido impactou a sua vida, fazendo-a criar um número de denúncia para violências.
“Temos um comitê muito forte sobre violência no Mulheres do Brasil. Na minha loja, tenho uma TV ao vivo para todos os 30 mil funcionários, onde levo discussões sobre esse tema. Eu nunca falava em violência antes porque achava que era uma coisa que estava longe de mim. Até que uma gerente nossa de alto nível foi morta pelo companheiro, com o filho no quarto, ao lado. Então abri uma linha direta na empresa, paralela à de denúncias, só para violência. Funcionou muito bem, e agora criamos um check list para meus colegas poderem replicar em suas companhias. E não importa o que ela fez, se ela traiu, se fez isso ou aquilo, não é essa a questão”, afirma Luiza. “O direito à vida está na nossa Constituição”, conclui a empresária.
Por Márcia Bechara/RFI Brasil