Coronavírus não interrompe prostituição a R$ 30 no centro de São Paulo

23 de março, 2020

Tradicional ponto de prostituição de São Paulo, Parque da Luz está fechado por causa da quarentena

(Uol Notícias, 23/03/2020 – acesse no site de origem)

O movimento de revitalização do centro antigo de São Paulo não chegou ao Parque da Luz, na região central da cidade. Ele está mais para a vizinha cracolândia do que para o prédio de concertos da Sala São Paulo. A água suja
no lago e a poluição da cidade incrustada nas estátuas são como as marcas do tempo alterando o rosto que um dia foi jovem.

A analogia serve também para trabalhadoras do Parque da Luz. Mulheres que deixaram de ser novinhas há algum tempo, algumas acima dos 60 anos e na faixa de risco do novo coronavírus, que se prostituem para clientes ainda mais velhos.

A covid-19 levou à quarentena, que levou ao fechamento do parque. Mas, assim como as carpas coloridas resistem à sujeira da água do lago, parte dessas mulheres continuam tentando a sorte na grade que cerca o local. Elas não têm
alternativa.

O programa em camas imundas de hotéis de quinta categoria rende os R$ 30 que pagam um PF (prato feito) e a condução. Ficar em casa não é uma alternativa. Arriscar a saúde é uma rotina. Enquanto houver cliente, vai haver
prostituta no Parque da Luz.

É verdade que elas estão em menor quantidade. Em sábados comuns o movimento é grande: “Ah, umas 50, 60 prostitutas passam o dia aqui quando o parque está aberto”, garante Sheila, de 70 anos.

Com a raiz do cabelo por fazer, a paulistana tenta esconder os fios brancos com uma flor de plástico acoplada a uma presilha. “Nunca trabalhei com outra coisa, então não ganho aposentadoria. Vivo aqui, vendendo o corpo para sobreviver. Já estou velha, mas ainda dou um caldo, viu? Meus clientes são fiéis. O problema é que eles são velhos, também, e agora não podem sair de casa. Aí me fodo”, diz antes de demonstrar resignação.

Moro sozinha num puxadinho na zona leste. Cortaram minha luz há um tempão. Não tenho medo desse vírus, não. Se me matar, vai ser até bom, já vivi bastante. Agora, deixa eu trabalhar.

[…]

Por Talyta Vespa e Felipe Pereira
Do UOL, em São Paulo

Leia essa reportagem na íntegra no sie do Uol Notícias

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