No mundo inteiro, a maior parte das mulheres e meninas dedicam um número excessivo de horas para as responsabilidades domésticas. Em geral, elas empregam nessas tarefas mais que o dobro de tempo que os homens e meninos. Essa divisão desigual de trabalho tem origem no aprendizado das mulheres e meninas e das suas possibilidades de obter um trabalho remunerado, fazer esporte ou se desenvolver como líderes cívicas ou comunitárias. Isso determina os padrões de desvantagens e vantagens relativas à posição das mulheres e dos homens na economia, suas atitudes e lugares de trabalho.
(Folha de S.Paulo, 08/03/2017 – acesse no site de origem)
Queremos construir um mundo de trabalho distinto para as mulheres. À medida que crescem, as meninas devem ter a possibilidade de acessar ampla variedade de carreiras e devem ser encorajadas a decidir para além das opções tradicionais, nas áreas de serviço e atenção, e que lhes permitam conseguir empregos na indústria, arte, função pública, agricultura moderna e ciência.
As mulheres e meninas devem estar preparadas para fazer parte da revolução digital. Atualmente, elas têm somente 18% dos títulos de graduação em Ciências da Computação. No mundo, é necessária uma mudança significativa na educação de meninas, se quiserem competir com êxito aos “novos empregos” bem remunerados. Na atualidade, as mulheres representam apenas 25% da força de trabalho da indústria digital.
Segundo a análise do Grupo de Alto Nível sobre o Empoderamento Econômico das Mulheres do Secretário Geral da ONU, para alcançar a igualdade no ambiente de trabalho será preciso ampliar as oportunidades de emprego e de trabalho decente. Nesse sentido, os governos deverão promover a participação das mulheres na vida econômica. Coletivos importantes, tais como os sindicatos, terão de prestar o seu apoio. E deverá ser dada a voz para as próprias mulheres gerarem as soluções que permitam superar as barreiras atuais. Há muito em jogo: se a igualdade de gênero avançasse, poderia ser dado um impulso de 12 bilhões de dólares no PIB mundial de agora até 2025. É preciso atuar com determinação para eliminar a discriminação que as mulheres se deparam em múltiplas frentes, que convergem para além do tema de gênero: orientação sexual, deficiência, idade avançada e raça.
Devemos conseguir que funcionem melhor as condições de trabalho para as mulheres naquelas áreas de atividade em que elas já estão excessivamente representadas e com baixa remuneração, além de contar com escassa ou nula proteção social. Trata-se, por exemplo, de que exista uma economia de cuidado sólida, que responda às necessidades das mulheres e promova a mudança de remuneração, que aplique condições de trabalho igualitárias para o trabalho remunerado e não remunerado das mulheres, e do apoio às mulheres empresárias, que abarquem o acesso a financiamento e aos mercados. As mulheres que trabalham no setor informal também necessitam que sejam reconhecidas e protegidas as suas contribuições. Isso requer políticas macroeconômicas propícias ao crescimento inclusivo e que possibilitem uma aceleração considerável para o progresso, em benefício das 770 milhões de pessoas que vivem em extrema pobreza.
É preciso que todas as partes façam ajustes em favor do trabalho decente e na direção de benefícios econômicos para todas as pessoas, como prevê a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável com a promessa de um mundo igualitário.
Phumzile Mlambo-Ngcuka, subsecretária geral das Nações Unidas e diretora executiva da ONU Mulheres