(Gazeta do Povo, 03/10/2015) Elisa Orth estuda enzimas com potencial para detectar pesticidas ou tratar doenças genéticas
A catarinense Elisa Orth está vivendo a realização de um sonho, como ela mesma diz. Pesquisadora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a doutora em Química está entre as sete cientistas que receberão no dia 20 de outubro o “Prêmio L’Oréal-Unesco-ABC Para Mulheres na Ciência”. Promovido desde 2006, o prêmio é um reconhecimento e um incentivo ao trabalho das cientistas brasileiras. As ganhadoras recebem uma bolsa-auxílio no valor de US$ 20 mil (equivalente a mais de R$ 80 mil, na cotação atual) para serem investidos nos estudos.
Elisa estuda o desenvolvimento de “catalisadores altamente eficientes para uma classe de reações que tem grande interesse biológico e também estão presentes em muitos pesticidas e armas químicas”. Em outras palavras, ela desenvolve produtos que podem reduzir e até eliminar rapidamente a toxidade de pesticidas. A técnica pode ser usada para detectar o uso abusivo de substâncias e até descobrir se foram usados pesticidas proibidos.
“O Brasil é um dos países que mais consome pesticidas no mundo, portanto se faz necessário um monitoramento mais eficaz, rápido e simples. Por exemplo, se lavássemos nossa alface e na água que lavamos alface colocássemos um sensor, tipo um pequeno pedaço quadrado de plástico, que mudasse de cor se tivesse uma quantidade muito alta de pesticida seria um alerta fácil para os consumidores e um sistema mais simples para controle nos centros de distribuição de alimentos, por exemplo”, explica.
Outro foco da pesquisa é o desenvolvimento de enzimas artificiais que poderiam ser utilizadas no tratamento de doenças genéticas – como o Alzheimer e alguns tumores. Explicada assim, fica evidente a importância da pesquisa desenvolvida por ela e o grupo que coordena. Mas nem sempre foi assim. “Muitos ainda não compreendem o que é fazer pesquisa e como o desenvolvimento da ciência é fundamental para o desenvolvimento do país. Isso é muito difícil pois sabemos que os países mais desenvolvidos são os que mais investiram na pesquisa e tecnologia, portanto é difícil lidar com pessoas que não reconhecem esse papel importante que temos na sociedade.”
Para as mulheres que resolveram encarar a ciência, outro obstáculo é o machismo. “A nossa credibilidade científica, muitas vezes, é desafiada por sermos mulher. O que posso fazer é rebater sempre tentando fazer a melhor pesquisa possível para provar minha capacidade”, afirma Elisa, que coordena o Grupo de Catálise e Cinética do departamento de Química da UFPR.
Ela também faz parte do projeto “Meninas e Jovens Fazendo Ciências Exatas, Engenharias e Computação”. Promovida pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, a campanha tem uma série de iniciativas para atrair as meninas para a ciência. Entre as atividades que Elisa promove estão aulas, palestras e visitas guiadas para que as jovens conheçam o trabalho de uma cientista.
“Desde muito nova sempre soube que eu queria ser pesquisadora. Meus pais sempre estiverem no meio científico me incentivando para isso. Sempre acompanhei experimentos deles quando pequena e até ajudava fazer os experimentos. Em casa, nós fazíamos muitos experimentos caseiros e eu sempre tive esse espírito investigativo”, conta a pesquisadora, que revela ter descoberto o gosto pela química no fim do ensino fundamental.
Para quem está começando nessa área, o conselho de Elisa é: “Faça algo pelo que você seja apaixonado”. Mas estudar muito e persistir nas pesquisas também aparecem na lista de recomendações da pesquisadora.
Caroline Olinda
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