Preconceito racial explicaria desigualdade persistente entre trabalhadores com ensino superior
(Folha de S.Paulo, 06/01/2020 – acesse no site de origem)
A diferença salarial entre brancos e negros, de 45%, de acordo com a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2019, não pode ser atribuída apenas à falta de oportunidade de formação para pessoas negras. Segundo cálculo do Instituto Locomotiva, a diferença salarial ainda é significativa, de 31%, quando comparados os salários de brancos e negros com ensino superior, isoladas todas as demais variáveis. Sobra apenas a cor da pele.
“Trata-se de uma desigualdade persistente que só pode ser explicada pelo racismo estrutural. Por um lado, ele se expressa no preconceito racial. Por outro, no maior capital social dos brancos: o famoso ‘quem indica’ de um branco é outro branco que está em um cargo alto”, afirma Renato Meirelles, presidente do Locomotiva.
Uma pesquisa realizada pelo instituto com 1.170 pessoas em 43 cidades demonstrou que a percepção dos brasileiros está afinada com esta realidade. De cada dez respondentes, cinco (55%) disseram que pessoas brancas têm mais oportunidades de estudo. E 65% afirmaram que brancos têm mais chances no mercado de trabalho. Entre os não negros, 63% reconheceram ter mais oportunidades.
A diferença salarial entre brancos e negros, de 45%, de acordo com a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2019, não pode ser atribuída apenas à falta de oportunidade de formação para pessoas negras. Segundo cálculo do Instituto Locomotiva, a diferença salarial ainda é significativa, de 31%, quando comparados os salários de brancos e negros com ensino superior, isoladas todas as demais variáveis. Sobra apenas a cor da pele.
“Trata-se de uma desigualdade persistente que só pode ser explicada pelo racismo estrutural. Por um lado, ele se expressa no preconceito racial. Por outro, no maior capital social dos brancos: o famoso ‘quem indica’ de um branco é outro branco que está em um cargo alto”, afirma Renato Meirelles, presidente do Locomotiva.
Uma pesquisa realizada pelo instituto com 1.170 pessoas em 43 cidades demonstrou que a percepção dos brasileiros está afinada com esta realidade. De cada dez respondentes, cinco (55%) disseram que pessoas brancas têm mais oportunidades de estudo. E 65% afirmaram que brancos têm mais chances no mercado de trabalho. Entre os não negros, 63% reconheceram ter mais oportunidades.
Censo realizado em escritórios de advocacia do país apontou que menos de 1% dos advogados júnior, pleno, sênior ou sócio eram negros. Entre os estagiários, eram 9,3%.
No Facebook Brasil há ao menos um diretor negro: o engenheiro industrial Denis Caldeira de Almeida, diretor de pequenos negócios para a América Latina. Nascido no bairro São Miguel Paulista, no extremo da zona leste paulistana, ele coordena o grupo de Diversidade do Facebook na América Latina e orienta jovens profissionais negros.
Com mestrado na França, cursos na Universidade da Pensilvânia (EUA) e na USP, ele reconhece que sua trajetória é incomum para um jovem negro da periferia.
“Tive muitas portas fechadas. Cheguei a pedir demissão três vezes [de uma única empresa] para ter meu trabalho reconhecido. Há poucas oportunidades para negros. Tento treinar aqueles para quem faço mentoria a identificar boas oportunidades”, afirma.
O Facebook Brasil não diz quantos negros trabalham na companhia. Os dados disponíveis são globais e mostram 3,8% de colaboradores negros em 2018, e 3,5% em 2017. Em cargos de liderança, a taxa passou de de 2,4% para 3,1%.
A falta de oportunidades leva muitos negros ao empreendedorismo de necessidade. Cálculos do Locomotiva a partir da Pnad apontam que empreendedores negros são maioria no país (52%).
Enquanto 25% dos brasileiros desejam abrir o próprio negócio, entre pessoas negras o índice é de 33%.
“Esse empreendedorismo não pode ser compulsório”, afirma Daniel Teixeira, do Ceert. “Para muitas pessoas negras, o empreendedorismo é o lugar da falta de empregabilidade.”
Para Adriana Barbosa, presidente da PretaHub e da Feira Preta, um dos maiores eventos de cultura negra do país, que reúne mulheres negras empreendedoras, é “a estrutura de exclusão que faz com que pessoas negras empreendam numa lógica da escassez”.
“O contexto de discriminação racial e a falta de acesso a oportunidades faz com que essas pessoas estejam à margem do mercado de trabalho formal e, portanto, sejam a maioria entre os microempreendedores individuais”, diz.
Mas ela vê esse contexto mudando. “Cada vez mais o jovem negro tem desejo de empreender por oportunidade, por vocação e por engajamento, desenvolvendo produtos específicos para as demandas da população negra, excluída do mercado de consumo mais amplo.”
Segundo Meirelles, o consumo da população negra movimenta R$ 1,8 trilhão ao ano. A desigualdade salarial com base em raça é o que impede o número de ser ainda maior, diz.
“As habilidades que estão na ponta dos processos seletivos são aprendidas no dia a dia de quem vive na periferia: lidar com a diversidade, ter empatia, ser criativo, se virar em situações de crise”, avalia. “Quanto mais igual a equipe, menos espaço para o contraditório e o diferente, logo, menos conectada a empresa fica com seus potenciais consumidores.”
Estudo da consultoria McKinsey encontrou uma correlação positiva entre diversidade e performance financeira. De acordo com a pesquisa “Delivering through diversity” (entrega através da diversidade, em tradução livre do inglês), as empresas com maior diversidade étnica tinham 33% mais chances de ter uma performance financeira acima da média de seu setor.
Por Fernanda Mena e Daniella Borges