Realização: Instituto Patrícia Galvão
Parcerias: Andi, Fundação Carlos Chagas e TV Cultura
Apoio: Secretaria de Políticas para as Mulheres
Local: São Paulo/SP
Em um momento único no país, no qual duas candidatas fortes e com histórias próprias disputam a Presidência, as mulheres ainda são minoritárias em todas as instâncias políticas. Para encerrar o debate, a mesa Mídia e Eleição Presidencial contou com a presença de:
Claudia Belfort – editora-chefe do Jornal da Tarde (São Paulo)
Luiz Rila – jornalista e coordenador da cobertura política de eleições de O Estado de S. Paulo
Eliane Cantanhêde – colunista da Folha de S. Paulo e da Folha.com
Céli Regina Jardim Pinto (debatedora) – cientista política, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Maria de Lourdes Rodrigues (coordenação) – socióloga, Instituto Patrícia Galvão
Só a mídia não viu
por Patrícia Negrão*
Duas mulheres disputam a Presidência; uma delas com grande chance de chegar lá no primeiro turno. O voto feminino irá definir as eleições. Nunca, na história do país, as mulheres tiveram tanta força. A cobertura jornalística, no entanto, não retrata essa realidade para o leitor. Esta é a opinião de editores especializados em política dos maiores jornais de São Paulo. Convidados para encerrar o seminário Mídia e Mulheres na Política, eles foram unânimes: o jogo do poder é masculino e a mídia reflete esse jogo.
Cobertura política ainda não percebeu a força das mulheres
“A mulher representa a maioria do eleitorado brasileiro e reparte metade da força econômica do país. Esta nova configuração social se reflete em uma lógica na tomada de decisões e a cobertura jornalística, em geral, não está enxergando essa nova realidade. Não está incorporando editorialmente os valores e os desejos da maior parcela do país”, afirma Claudia Belfort, editora-chefe do Jornal da Tarde.
Para a colunista da Folha de S.Paulo, Eliane Cantanhêde, o poder de influência e convencimento da mulher é enorme. “Quando se fala do voto da mulher, não se fala somente do voto de uma mulher, mas da influência que ela tem sobre os filhos, o marido, a vizinha, as amigas.”
Eleitoras não querem saber de tititi político, mas de propostas concretas
Na direção do segundo maior jornal do Grupo Estado, Claudia Belfort destaca que, quando a mídia ignora a lógica feminina de votar, está tratando a mulher “como incapaz, como cidadã de segunda classe”. “A mídia não oferece as informações que as mulheres desejam para votar conscientemente. A cobertura está limitada ao discurso masculino”, enfatiza ela. Menos interessadas nos “tititis” políticos, nos dossiês, nas falcatruas, as mulheres tendem a buscar informações “objetivas”, “concretas” dos candidatos e candidatas. Estão interessadas em ouvir as propostas para educação, saúde, violência, transporte, ou seja, para os problemas que enfrentam no seu cotidiano e de sua família. “O que nós fazemos, na maioria das vezes, é cobrir só as articulações, as alianças”, conclui Belfort.
Candidaturas de Dilma e Marina não são feministas
Apesar de a presença das mulheres jornalistas estar crescendo cada vez mais nas redações, Luiz Rila, coordenador da cobertura política de eleições de O Estado de S. Paulo, concorda que não há um noticiário mais atento às questões femininas no que diz respeito à cobertura política. “A presença de mais mulheres nas redações não está refletida na cultura do jornal. O poder feminino não é assunto para a grande mídia. É um tema que pode estar no plano de fundo da cobertura, mas não há uma abordagem específica dos grandes jornais, uma cobertura cotidiana, só matérias eventuais”, diz ele.
Para Luiz Rila, no entanto, as campanhas de Dilma Rousseff e de Marina Silva não são “feministas”. “Ambas foram frutos da lógica de seus partidos, que é a lógica da disputa política. E a mídia reflete isso pacificamente. A mídia reflete o poder e o poder é masculino.”
Pesquisa é fundamental, mas sozinha não produz uma boa reportagem
Eliane Cantanhêde acrescenta que os jornais estão deixando de fazer boas reportagens. “Os jornalistas estão sentados, esperando a pesquisa cair no colo. Pesquisa é fundamental, tem de ser manchete, mas não substitui o olhar do repórter.” Eliane acredita, porém, que é difícil para os jornalistas mostrar as idéias dos candidatos e candidatas, porque “eles não estão falando o que pensam, mas o que têm que falar. “As campanhas estão sendo feitas pelos marqueteiros não para esclarecer, mas para ganhar o voto com base em pesquisas qualitativas, pesquisas quantitativas, condicionamento dos partidos. Fica difícil para a imprensa quebrar essa barreira.”
Campanhas não arriscam em temas polêmicos
A cientista política Céli Pinto questiona se há espaço para introdução de temas novos nas campanhas políticas. Para ela, os candidatos não vão se arriscar “em espaço de incertezas, de novidades”. “Aborto, por exemplo, é um assunto sobre o qual nenhum candidato tem interesse em falar.” Não há espaço, de acordo com a professora da UFRGS, para temas ameaçadores. “O problema é maior do que ser mulher ou não. Disputa-se o poder no qual as questões já estão dadas anteriormente e funcionam muito bem”, conclui Céli Pinto.
* Patrícia Negrão é jornalista de São Paulo.
Acesse a cobertura sobre as outras mesas do evento:
9h Abertura – Eleições 2010: A Presença das Mulheres
Expositores/as
Albertina de Oliveira Costa – socióloga, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas e diretora do Instituto Patrícia Galvão
José Eustáquio Diniz Alves – demógrafo, professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE / IBGE)
Maria Betânia Ávila – socióloga, coordenadora do SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia
10h30 Mesa 1 – O Poder de Voto das Mulheres
Expositores/as
Fátima Pacheco Jordão – socióloga, especialista em pesquisa de opinião, assessora de pesquisa da TV Cultura e diretora do Instituto Patrícia Galvão
Gustavo Venturi – cientista político, professor de sociologia da Universidade de São Paulo (USP)
Cristiana Lôbo – jornalista, comentarista política da Globo News
Debatedora: Taís Ladeira – jornalista, Empresa Brasil de Comunicação (EBC)
Coordenação: Nilza Iraci – comunicadora social, Geledés – Instituto da Mulher Negra
11h30 debates
14h Mesa 2 – Mídia e Eleições Estaduais: A cobertura das candidaturas de mulheres
Expositores/as
Leonardo Cavalcanti – editor de política do Correio Braziliense (Brasília/DF)
Lázaro Moraes – editor de política de O Liberal (Belém/PA)
Rosane de Oliveira – editora de política e colunista do Zero Hora (Porto Alegre/RS)
Debatedor: José Moroni – filósofo, diretor do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc)
Coordenação: Isabel Clavelin – jornalista e assessora de comunicação do Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem)
15h debates