(Globo/G1) No Encontro Ibero-Americano de Alto Nível, em comemoração ao Ano Internacional dos Afrodescendentes, realizado em Salvador, a presidenta Dilma Rousseff afirmou que a pobreza no Brasil é negra e feminina, daí a necessidade de reforçar as políticas públicas de inclusão e as ações de saúde da mulher no país.
“O combate à pobreza e a geração de empregos […] são importantes fatores de inclusão social dos afrodescendentes até porque, no Brasil, a pobreza tem duas faces: negra e feminina e muitas vezes até infantil”, disse Dilma, em seu discurso no evento que teve a participação de líderes da América Latina, Caribe e África.
Mulheres negras sofrem dupla discriminação
Dilma Rousseff afirmou ainda que as mulheres negras têm sido “duplamente reprimidas ao longo da história por seu gênero e sua raça” e explicou, em tom bem-humorado, por que as políticas de transferência de renda têm foco nas mulheres, e não nos homens: “Sabemos, sem ter uma posição de detrimento aos nossos companheiros homens, que as mulheres são incapazes de receber os rendimentos e gastar no bar da esquina”.
Dilma reafirma compromisso com erradicação da miséria
Em seu discurso, a presidenta destacou a importância do Programa Brasil Sem Miséria, que visa erradicar a extrema pobreza e resgatar 16 milhões de brasileiros que vivem em situação de miséria. Dilma destacou que, nos últimos anos, inverteu-se uma situação que perdurava no país, quando negros, índios e pobres corriam atrás do Estado em busca de assistência. Agora, é o Estado que vai em busca dessas populações: “Nós temos o compromisso de buscá-los e retirá-los da pobreza. Não é mais as populações correndo atrás do Estado, é o Estado correndo atrás dos negros e negras do país, dos brancos e brancas e dos índios que vivem em estado de extrema pobreza”.
Dilma também definiu a “invisibilidade da pobreza e a miséria” como a herança mais marcante da escravidão. Segundo ela, atrelada a essa herança, veio a visão das “elites” de que o país poderia crescer “sem distribuir renda e incluir”. Nesse sentido, lembrou os programas inclusivos iniciados com a gestão do ex-presidente Lula e seu lema de que “pais rico é país sem pobreza”.
Segundo Dilma, os afrodescendentes são os que mais sofrem com o desemprego, a violência e a extrema pobreza. Por isso, “reverter esse quadro é o objetivo da Carta de Salvador” e de ações de combate à pobreza, como o Programa Brasil Sem Miséria. No discurso, ela destacou ainda a criação da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), em 2003, e a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, no ano passado, além da obrigatoriedade do ensino da história afrobrasileira nas escolas.
A presidenta Dilma apontou também o fato de a data do evento coincidir com a da morte do líder negro Zumbi dos Palmares, com o Dia Nacional da Consciência Negra, a ser comemorado no dia 20, e com os 123 anos do fim institucional da escravidão no país. Nestes 123 anos, disse a presidenta, “sofremos as consequências dramáticas da escravidão” e foi preciso combater uma delas, a sistemática desvalorização do trabalho escravo, que resultou na desvalorização de qualquer tipo de trabalho no país.
A presidente lembrou ainda que é urgente a valorização das mulheres em todos os campos e que é essencial promover uma maior participação do gênero feminino nos governos.
Leia na íntegra:
Dilma afirma que ‘pobreza no Brasil tem face negra e feminina’ (O Globo – 20/11/2011)
Dilma diz que a face da pobreza no Brasil é ‘negra e feminina’ (G1 – 19/11/2011)
Veja também:
Bolsa Família deveria adotar recorte racial, diz especialista (Band.com – 20/11/2011)
Dilma pede relação cada vez mais forte entre Brasil e países africanos (UOL – 19/11/2011)
Afrodescendentes precisam participar de todos os setores da sociedade, diz Gilberto Gil (Blog do Planalto – 19/11/2011)
Secretário da ONU pede a Dilma ações pela igualdade racial (iG – 19/11/2011)
Sociedade civil se reúne para propor ações de combate à intolerância racial (Seppir – 17/11/2011)
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