(O Estado de S. Paulo) Ontem, dois homens foram detidos por prática de atos obscenos contra mulheres na Estação Sé; eles devem responder em liberdade
Caio do Valíe Mareeio Godoy
A Polícia Civil de São Paulo está investigando 30 grupos de molestadores que atuam no metrô e na Companhia Paulista de Transporte Metropolitano (CPTM). Eles têm páginas no Facebook e em outras mídias sociais nas quais estimulam atos obscenos contra mulheres. Ontem, mais dois molestadores foram detidos na Estação Sé.
A Delegacia de Polícia do Metropolitano (Delpom) e a unidade de inteligência do Departamento de Capturas e Delegacias Especializadas (Decade) querem levantar informações sobre quem são as pessoas que incentivam os abusos pela internet. A linha de investigação envolve definir com quem elas se relacionam no dia a dia.
Na tarde de segunda-feira, o universitário Adilton Aquino dos Santos, de 24 anos, foi enquadrado por estupro, depois de molestar uma passageira que viajava em um trem da Linha-Rubi. Ontem, policiais foram à casa do homem que filmava as partes íntimas de mulheres na Estação da Sé para apreender o seu computador.
Sé. Ainda ontem, mais dois homens foram presos por práticas de atos obscenos contra mulheres na Estação Sé do Metrô. Segundo a Polícia Civil, um deles filmava com a câmera de um celular as partes íntimas de mulheres e o outro se aproximava por trás e pressionava a vítima. Os dois foram enquadrados por importunação ofensiva ao pudor, um crime considerado de menor potencial ofensivo, e devem ser liberados hoje.
De acordo com o delegado Osvaldo Nico Gonçalves, da Divisão Especial de Atendimento ao Turista (Deatur), à qual se subordina a Delegacia de Polícia do Metropolitano (Delpom), um dos acusados é o técnico em informática Bruno de Roma Perroni, de 24 anos. Segundo a polícia, seria ele quem filmava, por baixo, as mulheres no metrô. Em seu celular, os policiais encontraram a filmagem de outra mulher no metrô.
Na carceragem da Delpom, na Barra Funda, zona oeste da capital, Perroni disse que fez as gravações porque “tem um distúrbio na cabeça”. A suspeita da polícia é de que o vídeo depois fosse enviado para a internet, onde proliferam fóruns de discussão e páginas no Facebook incitando esse tipo de crime.
A vítima da ação, a auxiliar ad-ministrativa C.S., de 25 anos, contou que subia a escada rolante quanao o homem colocou o celular sob o seu vestido. “Só percebi que ele tinha me filmado porque os seguranças do Metrô me perguntaram se eu tinha visto. Estou revoltada, porque meu vestido não é curto. Mesmo se fosse curto, ele não tem o direito de me filmar. Tenho o direito de usar a roupa que eu quero sem ser filmada.” Ela disse que processará o acusado por danos morais.
O outro suspeito é o engenheiro eletricista Eduardo Ferreira do Nascimento, de 26 anos, que teria enfiado a mão por baixo das pernas da vendedora A.B., de 33 anos, enquanto os dois desembarcavam de um trem lotado na Sé. Ele nega a acusação. “Depois, ainda me apalpou por duas vezes. Isso é ‘sem querei”como ele disse? Tenho certeza de que não, que fez de propósito”, afirmou a vítima. “Na primeira vez, olhei para trás, para ter certeza, e ele deu um sorrizinho sarcástico. Quando voltei a olhar para a frente, ele novamente passou a mãoem mim. Esperei descer do trem e comecei a gritar e falar para todo o mundo o que tinha ocorrido. Ele subiu a escada rolante falando que eu estava louca. No que ele passou as catra-cas, passei a gritar para os seguranças. Senti muito nojo.”
O delegado disse que a mulher deve chamar a atenção dos outros passageiros e de seguranças, para se defender e poder fazer com que o agressor seja detido. Os dois homens assinarão um termo circunstanciado e responderão ao crime em liberdade. Segundo a polícia, a ocorrência envolvendo a vendedora não poderia ser enquadrada como estupro.
Número de casos no ano chega a 17
Com o caso de ontem, chega a 17 o número de ocorrências registradas neste ano pela Delpom. O episódio envolvendo Adilton Aquino foi o único registrado como estupro – os demais aparecem como importunação ofensiva. A polícia também está rastreando as identidades eletrônicas – IPs – dos computadores de pessoas que administram sites de incentivo ao assédio sexual. Recentemente, páginas tiradas do ar, como “Encoxadores”, no Facebook, com mais de 12 mil seguidores, atraiu a atenção da polícia, que pretende identificar e prender os responsáveis.
Acesse o PDF: 30 grupos de abusadores agem em trens (O Estado de S. Paulo – 20/03/2014)