A sobrecarga de opressão sobre as mulheres negras, por Jaceguara Dantas da Silva

16 de outubro, 2023 Folha de S.Paulo Por Jaceguara Dantas da Silva

Há enorme correlação entre cor da pele e probabilidade de mulher sofrer violência

A violência contra a mulher, que fere de forma indelével sua dignidade humana e impede o seu pleno desenvolvimento, representa um dos maiores desafios da atualidade para os direitos humanos. E, quando buscamos analisar a questão sob o prisma da interseccionalidade, constatamos a sobrecarga de opressão a que estão sujeitas as mulheres negras, discriminadas não apenas por seu gênero, mas por suas características sociais e étnico-raciais.

Em todo o país, os números da violência de gênero contra a mulher revelam que as negras sofrem o dobro das agressões perpetradas contra as brancas. Dos casos de violência física às vias de fato e estupro, a proporção se repete. Nos casos de homicídios e feminicídios, a relação se amplia: as negras sofrem o triplo. Esse resultado é insofismável e demonstra a profunda correlação entre cor e etnia e a probabilidade de a mulher sofrer violência.

Conclui-se ser indispensável que o Estado invista em ações que previnam, coíbam e punam todo tipo de preconceito e discriminação. Incluir como obrigatória a disciplina de direitos humanos nos currículos escolares é apenas um exemplo a ser implantado, assim como a capacitação dos operadores do direito, promotores, defensores, magistrados e respectivos servidores, a fim de propiciar maior sensibilização desses atores para a realidade das mulheres negras. Mesmo com instrumentos legais eficientes, a falta de uniformidade de informações nos sistemas processuais, que nem sempre têm campo de gênero e raça, dificulta garantir a mulheres negras proteção semelhante à de brancas.

A inserção do elemento raça em todos os órgãos que trabalham com violência de gênero nos ajudará a dimensionar as fragilidades desse segmento e a atuar numa linha mais prospectiva. Importante também disseminar, junto às mulheres negras, informações sobre racismo, sexismo e classismo, fomentando a discussão desses temas, para que se torne público o sofrimento experimentado no ambiente privado, dando visibilidade aos conflitos nele estabelecidos.

Acesse o artigo no site de origem.

Nossas Pesquisas de Opinião

Nossas Pesquisas de opinião

Ver todas
Veja mais pesquisas