Estudo inédito no Brasil mostra como casos de violência física, sexual e psicológica influenciam na saúde mental de puérperas.
Quando a secretária Sandra deu à luz, há dois anos, a aceitação do filho não ocorreu da maneira como ela esperava e sonhava. “Eu não tinha ânimo para nada, não queria sair da cama. Sentia um arrependimento grande por ter decidido engravidar e queria voltar à vida como era antes”, conta ela, que pediu para ter seu nome trocado pela reportagem.
Agora, ela se sente recuperada. Atribui a situação ao fato de que foi diagnosticada naqueles dias com uma condição que afeta muitas mulheres em todo o mundo: a depressão pós-parto. “Fiz muita terapia e enfrentei traumas que nem me lembrava que existiam”, revela.
Entre eles, o abuso que sofreu na infância. Filha de uma empregada doméstica paulistana, Sandra costumava acompanhar a mãe no trabalho, principalmente aos sábados. E, a partir do início da adolescência, a patroa passou a molestá-la. “Ela me tratava como se eu fosse inferior, dizia que eu era burra e não iria nunca ser alguém na vida. Como não queria criar problemas para minha mãe, ficava quieta. Então ela começou a me tratar também como se fosse sua empregada, mandando que eu fizesse coisas como servir chá e levar comida para o quarto dela”, recorda.
Dali para os abusos se tornarem sexuais, foi um passo. “No começo, ela mandou, brava, que eu massageasse os pés dela. Logo, estava obrigando que eu fizesse coisas que eu nem sabia que eram possíveis, na minha inocência”, diz ela.
Os abusos duraram dois anos e só foram interrompidos quando a mãe mudou de emprego. O abuso sexual era seguido de uma violência psicológica, já que Sandra era condicionada a ficar em silêncio porque a patroa dizia que, em caso contrário, a mãe seria demitida.