Os termos de um parecer do CNPq sobre um projeto de pesquisa para obtenção de bolsa produtividade submetido ao órgão pela professora-doutora Maria Carlotto, pesquisadora e docente da UFABC, chocou boa parte da comunidade científica brasileira.
Nele, o/a parecerista reconheceu o mérito da pesquisa, mas negou a bolsa à pesquisadora em razão da ausência de estágio de pesquisa no exterior, decorrente das gestações que “atrapalharam” a carreira da docente. Não foi o único parecer misógino e assediador explicitado nas redes sociais nos últimos dias, infelizmente. Entretanto foi o mais paradigmático do anacronismo das agências de fomento à pesquisa científica no Brasil.
Em nota, o coletivo de pesquisadoras-mães Parent in Science, com atuação nacional e reconhecimento internacional, repudiou o caráter misógino e assediador do parecer e cobrou uma resposta do CNPq em relação à falta de consistência e transparência nos critérios de avaliação adotados.
Vladimir Safatle, professor titular da USP, chamou atenção para o fato de que o referido parecer foi escrito por pares, isto é, um/uma colega de trabalho considera que a maternidade “atrapalha” a carreira científica da candidata. Débora Diniz, por sua vez, professora e pesquisadora da UnB, reforçou as críticas acima e foi além ao chamar atenção para o caráter colonialista do parecer ao considerar o estágio de pesquisa no exterior como algo central para a validação de uma pesquisa científica.