Brasil é o 5º país em que mulheres mais têm medo de sofrer agressão física, aponta pesquisa

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Foto: Freepik

25 de março, 2025 Marie Claire Por Camila Cetrone

Levantamento da Ipsos aponta ainda que 66% dos brasileiros acreditam que sociedade funcionaria melhor com líderes mulheres, mas mais da metade acredita que avanços por direitos iguais já foram longe o suficiente e 37% concordam que homens são discriminados

O Brasil é o quinto país no mundo em que mulheres mais têm medo de serem vítimas de agressão física. É o que aponta um levantamento inédito realizado pela Ipsos: 56% das brasileiras afirmam ter esse medo, perdendo apenas para Indonésia (73%), Itália (63%), Turquia (59%) e Canadá (58%). O estudo foi conduzido em 30 países e avaliou a opinião pública sobre equidade de gênero entre homens e mulheres, além de perceber se mulheres estão mais conscientes sobre a violência de gênero e seus próprios direitos, caso sejam vítimas.

“Mesmo com avanços no reconhecimento de crimes e na legislação, o Brasil segue sendo um país violento e inseguro para as mulheres. Isso pauta nossas decisões, possibilidades de desenvolvimento e de prosperidade. Um país que trata mal as suas mulheres ou que é desproporcional e desigual em direitos para elas não prospera. O dado chama atenção para que pensemos sobre isso”, afirma a antropóloga e pesquisadora Beatriz Accioly, líder de Direitos das Mulheres do Instituto Natura.

Além disso, 47% das brasileiras acreditam que já foram vítimas desse tipo de violência, contra 7% dos homens. O número fica 20 pontos percentuais abaixo dos primeiros colocados no ranking, Espanha e França, que empataram com 67% das mulheres concordando que foram vítimas de violência de gênero.

“Isso nos mostra que o Brasil tem uma certa dificuldade de nomear certas situações como violência baseada no gênero. Ainda precisamos avançar e trabalhar mais para sanar essa dificuldade de reconhecer uma situação de injustiça, desigualdade e violência baseada em gênero”, diz Accioly.

A percepção das entrevistadas ratifica o cenário ainda desigual e violento para as mulheres. Segundo dados do Mapa Nacional da Violência de Gênero, que ouviu 20 mil mulheres e foi realizado pelo Observatório da Mulher Contra a Violência (OMV) e DataSenado (do Senado Federal, Instituto Natura e Gênero e Número), 48% das brasileiras já viveram alguma situação de violência doméstica e familiar. Destas, 30% reconheceram como violência.

Além disso, a pesquisa Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), divulgado no último dia 10, afirma que 21,4 milhões de brasileiras sofreram algum tipo de violência no último ano, maior índice da série histórica.

“Mapear como os brasileiros pensam sobre equidade de gênero tem uma relevância social e política fundamental em nossa sociedade. Os dados fornecem um panorama crucial das atitudes, crenças e valores da população em relação a questões de gênero, permitindo identificar áreas onde ainda existem desafios significativos e onde houve progresso”, diz Priscilla Branco, socióloga e gerente de pesquisa de opinião pública na Ipsos.

Mais de um terço dos brasileiros se diz feminista, mas 37% acreditam em discriminação contra homens

A pesquisa também mapeou que mais de um terço da população brasileira se define como feminista. Ou seja, 37% dos respondentes, entre homens e mulheres, se autodefinem vinculados à luta pela equidade entre homens e mulheres.

“Embora longe do ideal, esse número aponta o resultado de iniciativas dos últimos 20 anos para mais conscientização e garantia de bem-estar e proteção às mulheres. Também demonstra que esforços como campanhas, conversas desconfortáveis e mobilização comunitária têm resultado”, diz Beatriz.

Por outro lado, 52% dos brasileiros afirmaram que os avanços de equidade entre mulheres e homens já foram longe o suficiente; e 37% acreditam que os limites foram ultrapassados e que, agora, homens são discriminados. Branco vê essa percepção como preocupante e que escancara uma compreensão equivocada sobre desigualdade de gênero no país.

“A falta de exposição e debate maior sobre as diferenças salariais entre homens e mulheres, violências de gênero e saúde mental das mulheres, por exemplo, dificulta tornar mais conhecido o tamanho das disparidades e o que devemos fazer para saná-las. Não é possível resolver um problema se não falamos sobre ele. Essa discrepância pode resultar em uma estagnação ou até retrocesso nas políticas públicas voltadas para a igualdade de gênero”, pondera Branco.

“Se uma parcela significativa da população acredita que já fizemos o suficiente, isso pode diminuir o apoio a iniciativas cruciais, como programas de combate à violência doméstica, políticas de equidade salarial e tantas outras”, acrescenta.

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