Énois | Inteligência Jovem fez uma escuta com meninas do Brasil todo para entender como o machismo e a violência contra a mulher afetam a vida das jovens das classes C, D e E
As conquistas da mulher durante o século XX e início do século XXI são inegáveis. Da presidência do Brasil ao funk, o empoderamento feminino está em pauta. No entanto, dentro de casa, nos primeiros anos de vida, as meninas continuam aprendendo que há atividades que não são pra elas – “coisas de menino” –, que há lugares aonde elas não podem ir, roupas que elas não devem usar. Às mulheres, mesmo às mais jovens, reserva-se ainda um determinado tipo de postura, que envolve aparência, comportamento sexual e até anseios de vida.
É isso o que mostra uma escuta conduzida pela Énois | Inteligência Jovem, em parceria com os institutos Vladimir Herzog e Patrícia Galvão, com mais de 2.300 mulheres de 14 a 24 anos, das classes C, D e E. O estudo, que envolveu questionário online e entrevistas em profundidade, buscou entender como a violência contra a mulher e o machismo atingem as jovens de periferia. Os resultados foram apresentados no I Seminário Internacional Cultura da Violência contra as Mulheres, em maio.
Leia mais:
Pesquisa revela que 77% das mulheres no Brasil já foram vítimas de assédio sexual (Saúde Plena, 02/06/2015)
Pesquisa aborda o machismo e violência contra a mulher na periferia (Catraca Livre, 01/06/2015)
Os números mostram que 74% das entrevistadas afirmam ter recebido um tratamento diferente em sua criação, por serem mulheres; 90% dizem que deixaram de fazer alguma coisa por medo da violência, como usar determinadas roupas e frequentar espaços públicos; e 77% acham que o machismo afetou seu desenvolvimento.
Mas qual a relação entre esses dados? A ocupação do espaço público é uma das mais importantes. Na infância, enquanto os meninos brincam na rua, as meninas têm sua circulação limitada. “Eu sempre tinha que ficar dentro de casa e os meninos podiam ir pra rua. Eu gostava de empinar pipa, mas minha mãe não deixava. Às vezes eu ia escondido e, se ela me encontrasse, me pegava e me botava pra dentro”, conta uma jovem de 18 anos, moradora da Heliópolis, São Paulo. Esse comportamento – meninos na rua, meninas em casa – se perpetua ao longo da vida. Homens se sentem à vontade na rua e no transporte público, enquanto as mulheres ficam acuadas, controlando horários e peças de roupa.
É por isso que, a partir da pesquisa, a Énois lança a campanha #meninapodetudo, para estimular a discussão e o compartilhamento de informações sobre o tema. Jovens de todo o Brasil são convidadas a contar suas histórias e opiniões com a hashtag #meninapodetudo, ampliando e potencializando o alcance da pesquisa.
Outros dados e informações da escuta revelam como a cultura machista ainda limita a liberdade das mulheres e naturaliza atos violentos, como o assédio na rua ou mesmo dentro de um relacionamento. Confira o relatório completo aqui.