Amores não matam: jovens são as principais vítimas de feminicídio no Brasil, por Silvana Mariano e Cecília França

32995943210_b4012d9e33_o

Foto: Mídia Ninja

11 de junho, 2025 Portal Catarinas Por Silvana Mariano e Cecília França

No Dia dos Namorados, Lesfem e Néias alertam para relações que matam.

O Brasil celebra no dia 12 de junho o Dia dos Namorados, data marcada por flores, jantares e declarações de amor. Relacionamentos que, muitas vezes, também envolvem controle, ciúmes, dominação emocional – formas distorcidas de demonstrar afeto normalizadas ao longo dos séculos. Não raro, relações que terminam em tragédia.

Não se trata de achismo, mas de dados: a maior parte dos feminicídios registrados no Brasil acontece dentro de relações amorosas. São 72% dos casos, classificados como feminicídios íntimos, cometidos por companheiros ou ex-companheiros.

Por isso, o Laboratório de Estudos de Feminicídios (Lesfem) e Néias – Observatório de Feminicídios de Londrina lançam uma campanha comum para discutir essa realidade, com um alerta para mulheres jovens.

Dados de 2023 e 2024 do Monitor de Feminicídios no Brasil (MFB), mostram que 52,46% das vítimas de feminicídio no período tinham até 34 anos de idade, sendo a maior incidência entre jovens de 25 a 34 anos. É assombroso ver nossa juventude sendo ceifada pela violência de gênero em sua face mais cruel.

Os dados do MFB relativos aos autores somam ao nosso desespero, quando mostram que 46,8% deles tinham até 34 anos de idade, sendo a maior parte entre 25 e 34. Jovens homens manifestando construções de masculinidades distorcidas e cruéis.

Entre as vítimas, no ano de 2024 a incidência chegou à taxa de 5,2 por cem mil mulheres no grupo etário de 25 a 34 anos. Entre os agressores, o mesmo grupo também foi o de maior incidência, com a taxa de 4,4 por cem mil homens.

Esses números contribuem para que problematizemos a ideia de que poderíamos estar avançando para uma sociedade mais igualitária entre homens e mulheres.

Fenômenos como a urbanização, a democratização e o aumento de escolaridade da população tenderiam a gerar sociedades mais igualitárias. Essa é uma das promessas fundamentais da modernização.

Quando falamos de relacionamentos amorosos, porém, essa igualdade não chega. Às mulheres seguem sendo negado o direito de pôr fim a relacionamentos, de tomar as rédeas da própria vida, de seguir adiante.

Alerta entre adolescentes

Recentemente, a série “Adolescência”, na qual um jovem de 13 anos assassinou uma garota pouco mais velha, trouxe à tona problemáticas como a construção de uma masculinidade deturpada em espaços virtuais e suas manifestações no mundo real, como a misoginia e o feminicídio.

Dados do MFB mostram que menores de 17 anos foram vítimas em 6,95% dos casos ocorridos em 2023 e 2024. Entre os autores, adolescentes foram 2,43%. Não são índices desprezíveis.

Em outubro de 2024, na mesa de encerramento do II Simpósio de Feminicídios da Universidade Estadual de Londrina (UEL), a desembargadora do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR), Priscilla de Placha Sá, que atua junto a adolescentes em conflito com lei, alertou para o aumento na incidência de crimes de violência doméstica cometidos por adolescentes, inclusive feminicídios.

“Eles dizem ‘Doutora, mas ela era minha mulher’”, relatou a desembargadora, em um exemplo anônimo, assombrada com a perpetuação da lógica da mulher como posse entre a juventude, baseada no modelo cultural do “amor romântico”, que idealiza a entrega total, a fusão entre os sujeitos e a subordinação da mulher à relação – escalando aos feminicídios.

Não se trata de um amor que liberta, mas de um amor que vigia, que interdita e, muitas vezes, que mata.

Acesse o artigo no site de origem.

Nossas Pesquisas de Opinião

Nossas Pesquisas de opinião

Ver todas
Veja mais pesquisas