(Brasil de Fato | 18/06/2022 | Por Thaís Hipólito)
Este é o segundo texto de uma série de escritos a partir do encontro entre uma escutadora e uma sobrevivente de feminicídio, cujos vínculos se deram a partir do programa de extensão Clínica Feminista na Perspectiva da Interseccionalidade da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Sobreviver a um feminicídio significa não apenas abrir os olhos para uma realidade que sempre esteve diante de nós e não raro sob o mesmo teto, mas nunca mais fechá-los para as notícias que saltam dos jornais todos os dias. Um tipo de consciência sempre alerta que nos custou caro, e que nos rouba algo sem preço.
No início de maio, Bárbara Penna precisou pedir uma medida protetiva de urgência contra o ex-marido, já preso e condenado. Como sobrevivente, ela tem atuado para mudanças na lei Maria da Penha, de modo a torná-la mais efetiva – ou, melhor dizendo, do lado de cá de quem também carrega na pele as marcas da violência, menos falha. De dentro da prisão, ele enviou vídeos para ela dizendo amá-la e sorri, como se mais nada pudesse atingi-lo. Ela disse sentir terror. A delegada afirmou não ser incomum que mulheres sigam sendo ameaçadas por seus agressores, mesmo encarcerados.