(Agência Eco Nordeste| 08/03/2021 | Por Adriana Pimentel)
Como seguir depois da tragédia? O feminicídio deixa um rastro de dor que segue vivo após o assassinato da mulher. Familiares, principalmente os filhos, se veem diante de muitas dificuldades para reconstruir a vida, lidar com a ausência da mãe, com as novas conjunturas familiares, novos lares. A precariedade dos serviços públicos, que deveriam ser oferecidos para auxiliar na superação da perda, é um agravante. Há ainda o sentimento de revolta porque, na maioria dos casos, essa mulher já estava no processo de separação.
O professor José Raimundo Carvalho, da Universidade Federal do Ceará (UFC), coordenador da Pesquisa de Condições Socioeconômicas e Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (PCSVDFMulher), desenvolvida em parceria com o Instituto Maria da Penha, que ouviu 10 mil mulheres desde 2016, revela que cada mulher que morre deixa aproximadamente três órfãos e que a maioria desses órfãos fica com a família do assassino. “Nós somos o único projeto, até hoje, que começou a mapear os órfãos do feminicídio no Brasil. Por incrível que pareça, não existe nenhuma base de dados, nenhuma política pública para os órfãos do feminicídio e isto é um absurdo porque a orfandade é uma coisa horrível”, afirma.
Foto: Adriana Pimentel / Arte: Flávia P. Gurgel