(O Globo, 07/07/2014) Nem o apoio internacional nem a ajuda das autoridades locais nigerianas. As 63 mulheres adolescentes e adultas que fugiram do cativeiro depois de 45 dias de sequestro na Nigéria conseguiram escapar quando rebeldes islâmicos do Boko Haram saíram para atacar uma base militar perto do distrito de Damboa, no estado de Borno. As mulheres — de um grupo de 68 — fugiram na sexta-feira e andaram por quase 24 horas antes que as autoridades fossem alertadas, dois dias depois. Pelo menos 50 militantes foram mortos no fim de semana após tentarem atacar bases militares e policiais, enquanto tropas patrulhavam aldeias vizinhas, de acordo com o Exército. Mas as 200 estudantes raptadas em abril ainda estariam sob poder dos extremistas.
— Acabo de receber um alerta da parte de meus companheiros de Damboa sobre a volta para casa de 63 mulheres e jovens sequestradas — disse Abbas Gava, representante das milícias locais de Borno.
Antes de deixarem seus postos para realizarem outro atentado, ao anoitecer, os rebeldes islâmicos advertiram as mulheres para que não fugissem. Horas depois, no entanto, uma delas arrombou a porta. Elas estavam sendo mantidas presas perto de Gwoza, uma remota cordilheira que se estende até Camarões — e onde o grupo fez sua base, já que muitos de seus campos na Nigéria foram atacados por jatos da Força Aérea. Para especialistas, as fugas sugerem que uma ofensiva militar pode ter colocado o Boko Haram sob pressão. Mas os militantes continuam a lançar ataques semanais em aldeias remotas, com pouca presença de tropas.
— As mulheres foram trancadas num complexo quando membros do Boko Haram foram realizar outro ataque — disse Alhaji Sule, membro de um dos grupos semioficiais de segurança na capital do estado, Maiduguri. — Elas caminharam por cerca de 50 quilômetros.
Maiduguri, no Nordeste da Nigéria, é uma área atingida com frequência pelos ações do grupo. Na semana passada, um ataque com carro-bomba deixou 56 mortos na cidade, a quase 900 quilômetros da capital, Abuja.
— Algumas das aldeias ao redor viraram cidades-fantasmas. Em Chukon Gudo, eles atearam fogo em quase todas as casas. Restaram apenas três — contou Kabiru Garba, que fugiu de sua terra natal para uma relativa segurança em Maiduguri.
REBELDES MORREM EM COMBATE
Após o ataque de sexta-feira contra um quartel e a delegacia de Damboa, o Exército nigeriano anunciou a morte de 53 rebeldes. Além dos terroristas, cinco soldados e um oficial perderam a vida, de acordo com um comunicado oficial.
— A metade de Damboa foi incendiada, incluindo a delegacia de polícia. A população fugiu da cidade — informou um morador local.
O Boko Haram, que já deixou milhares de mortos na Nigéria desde 2009, sequestrou mais de 200 estudantes de uma escola de ensino médio em abril, na cidade de Chibok, também no estado de Borno. A ação causou grande comoção no país e no exterior. Há alguns dias, o Exército da Nigéria afirmou ter prendido vários suspeitos de conexão com o sequestro. Mas, até agora, mesmo com apoio de países como os EUA e China, não se sabe do paradeiro das meninas e nenhuma grande liderança do grupo foi capturada. Um relatório da organização Human Rights Watch de 2013 já fazia referência a sequestros e estupros de mulheres pelo grupo islâmico e ao recrutamento forçado de crianças.
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