Iniciativa criada no Rio de Janeiro chega a Belo Horizonte neste carnaval. A ideia é fazer uma rede de apoio para que as mulheres possam se ajudar durante a folia.
(G1 – 31/01/2018 – acesse no site de origem)
“Foi preciso escrever para as pessoas entenderem que não é não”, disse Luiza Alana, integrante de um coletivo de mulheres que usa a informação, o empoderamento e tatuagens temporárias como instrumentos contra o assédio. A ideia começou no Rio de Janeiro durante o carnaval do ano passado. A distribuição gratuita das tatuagens com os dizeres “Não É Não!” deu tão certo que agora se espalhou por São Paulo, Bahia, Pernambuco e Minas Gerais.
“É o resultado de um financiamento coletivo. A distribuição é gratuita. É a primeira vez que Belo Horizonte participa. A gente já começou a distribuir o projeto durante os ensaios de blocos e a aceitação tem sido muito positiva, tanto das mulheres quanto dos homens”, disse Luiza. A expectativa é que 4 mil tatuagens temporárias sejam distribuídas durante o carnaval.
Luiza falou que as cartelas são destinadas apenas às mulheres. “Teve caso de amigos que pediram a tatuagem, mas eu tive que explicar que o corpo que ainda precisa dizer ‘não’ é o da mulher. É o meu [corpo]. Mas nós queremos que os homens também entrem na luta contra o assédio se conscientizando, ‘puxando a orelha’ daquele amigo mais folgado, denunciando e nos ajudando quando presenciarem alguma situação assim”, disse ela.
Colar a mensagem no próprio corpo é algo poderoso, segundo Luiza. “É uma atitude forte. O projeto pretende criar uma rede de apoio para que as mulheres possam se identificar através da tatuagem, fazendo com se ajudem e se protejam contra o assédio”, explicou a ativista.
Em Belo Horizonte, os blocos Alô Abacaxi, Garotas Solteiras, Bruta Flor, Acorda Amor e É o Amô são parceiros do projeto. Luiza, que toca em pelo menos quatro deles, além do Então, Brilha!, Us Beethoven e Roda de Timbau, disse que a proposta é disseminar as tatuagens por todo o carnaval.
“Esse assunto [assédio] vem crescendo, as denúncias vão aparecendo. Não é porque os casos estejam aumentando. Eles sempre existiram, mas agora a gente tem tido coragem para falar e isso nos torna cada vez mais seguras”, disse Luiza.
Pode brincar, paquerar, beijar, desde que todo mundo esteja de acordo. “Não é não!” já é dito. Agora foi preciso “escrever” no corpo. A expectativa é que não seja preciso desenhar também.
Em Pernambuco, a revolta e o descontentamento com as experiências de assédio no carnaval motivaram três organizações da sociedade civil a criar uma ferramenta independente para ouvir e acolher vítimas desse tipo de crime no Recife e em Olinda.
A iniciativa #AconteceuNoCarnaval existe desde 2017, mas, em 2018, a ferramenta ganhou um WhatsApp para receber relatos de foliões que presenciaram ou sentiram na pele a violência de gênero. A ideia é dar visibilidade ao problema e cobrar respostas do poder público.
Além das denúnciais, as casas do Sítio Histórico de Olinda também poderá ‘se marcar’ como um local de apoio às mulheres que sofrem algum tipo de violência. A iniciativa também pretende distribuir fitas de identificação para que as mulheres possam se reconhecer na multidão e pedir apoio umas às outras.
No Rio de Janeiro, a Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos (SEDHMI) vai lançar a campanha “Carnaval é curtição, respeita o meu não”, contra o assédio sexual durante o carnaval. O material será veiculado no BRT, MetrôRio, SuperVia e nas redes sociais.
Thais Pimentel